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Ubuntu, aldeia educativa e compromissos com a educação brasileira 

Lições que vêm de longe: como ser e fazer escola de forma coletiva?

Texto: Ivan Aguirra 

Que ninguém solte a mão de ninguém.

“Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira.” Você, com certeza, já leu e ouviu muitas vezes esse provérbio africano. E, lá no fundo, pode ter pensado: que utopia das maiores, ainda mais desembarcando nestes territórios tupiniquins, onde a polarização e os interesses individuais e econômicos sempre falaram mais alto. Utopia pura! 

Realmente, o Brasil não é um país para amadores (nem para quem tem pretensão de educar e/ou propensão à gastrite). Mas nunca podemos perder de vista a educação em seu sentido mais amplo, que vai além da escola como espaço físico. A escola e seus professores têm um papel transformador, mas, sozinhos, não transformam uma sociedade. Isso parece não ter sido muito bem assimilado ainda por aqui, um lugar que tem como bandeira a descontinuidade nas políticas educacionais ao calor de uma mudança de governo. 

É consenso dizer que educamos nossos olhos à tradição e à cultura europeias. De fato, são referências enraizadas, mas não deveriam ser as únicas, até mesmo pela falta de similaridade com um país continental como o nosso.  

Quando pensamos em sociedades polarizadas, é nítido resgatar a África do Sul de Mandela e tudo que pudemos aprender com ele. É Mandela um dos disseminadores de um ideal chamado Ubuntu. “Respeito. Cortesia. Compartilhamento. Comunidade. Generosidade. Confiança. Desprendimento. Uma palavra pode ter muitos significados. Tudo isso é o espírito de Ubuntu. Ubuntu significa que as pessoas não devem cuidar de si próprias. A questão é: você vai fazer isso de maneira a desenvolver a sua comunidade, permitindo que ela melhore?” 

Ubuntu é um conceito proveniente das línguas zulu e xhosa, línguas bantu faladas por povos da África Subsaariana. Não tem uma tradução direta, mas seria algo como “humanidade para com os outros”. O arcebispo Desmond Tutu, autor de uma teologia Ubuntu e prêmio Nobel da Paz em 1984 por sua luta contra o Apartheid, assegura que “uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível para as outras, apoia as outras, não se sente ameaçada quando outras pessoas são capazes e boas, com base em uma autoconfiança que vem do conhecimento de que ele ou ela pertence a algo maior que é diminuído quando outras pessoas são humilhadas ou diminuídas, quando são torturadas ou oprimidas”. 

De volta ao Brasil, se temos uma aldeia doente nos mais variados espectros e dependemos dela para reerguer uma escola pungente e relevante para os dias atuais, que tal reverberarmos o Ubuntu? Mesmo que incipiente, o conceito parece já estar presente nos arranjos de desenvolvimento educacional Brasil afora, nas comunidades ribeirinhas, nas escolas agrícolas e do sertão, nas favelas, enfim, persiste uma mobilização comunitária como força de resistência. É o Ubuntu brasileiro como chama de uma sociedade viva.  

A escola, sozinha, não pode levar o ônus do fracasso de toda uma sociedade. Mas ela pode plantar uma semente vinda da África e que pode ser multiplicada por todos. Afinal, cada um é o que é graças ao que somos todos nós.  

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