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A pandemia da mudança

Será que fomos escolhidos pioneiros de um novo momento do mundo?

Texto Ivan Aguirra e Kátia Dutra

Estamos mudando de era. Tudo aquilo que aprendemos nas aulas de História está acontecendo em tempo real e estamos experimentando as instabilidades de uma situação que nossos antepassados não viveram e com a qual não nos ensinaram a lidar. A Idade Contemporânea, que começou lá no início da Revolução Francesa, não seria mais suficiente para nos definir como sociedades complexas que somos. 

Ninguém esperava que 2020 fosse o ano em que a escola teria que se multiplicar à força para continuar existindo na casa de cada um de nós. À primeira vista, o isolamento trouxe curiosidade sobre como seriam a organização de tarefas, a gestão das equipes e as formas como improvisaríamos as nossas atividades profissionais. Deu até uma sensação de liberdade de não ter que acordar tão cedo para pegar o rumo do que conhecíamos como escola.   

Com o passar dos meses e o aumento exponencial do número de mortes pela Covid-19, a curiosidade deu lugar às incertezas e à angústia de não poder sair de casa e dar conta de rotinas, sistemas e metodologias com os quais não tínhamos quase nenhuma familiaridade prática. Foi preciso exercitar a calma, desaprender e reaprender tudo que tínhamos como certezas. Mas não estávamos sozinhos.   

Talvez você ainda não tenha se dado conta, mas a pandemia afetou todas as pessoas no mundo. É isso mesmo: mais de 7 bilhões de indivíduos foram impactados por um vírus que desembarcou de um lugar que parecia tão distante, fazendo conexão direta com o nosso dia a dia. Essa situação coletiva é um spoiler da palavra pandemia, cuja origem está no grego pandemías, marcada pela junção dos elementos gregos pan, que significa todo/tudo, e demos, que remete a povo.   

Em termos históricos, a palavra foi usada pela primeira vez por Platão ao se referir a qualquer acontecimento que atingisse a todos os indivíduos de uma sociedade. Biologicamente falando, uma pandemia é marcada por uma epidemia de grandes proporções que se espalha geograficamente, atingindo mais de dois continentes simultaneamente.   

Todo esse impacto virou uma chave na sociedade. Ao mesmo tempo que a mídia segue conscientizando as pessoas sobre dados e números da doença, estamos questionando a nossa existência como parte social, enquanto damos conta de uma rotina completamente diferente e aprendemos a lidar com novas tarefas diárias. 

Essa, com certeza, é uma reflexão recorrente nas rodas de conversa por canais de mensagem ou plataformas de videoconferência. Estamos nos sentindo presos em uma rede de incertezas. O exemplo de resiliência e persistência dos professores e gestores merece ser exaltado e aplaudido. São relatos e mais relatos do sacrifício dos docentes para entregar materiais na casa de alunos e garantir o mínimo de aprendizagem para as suas turmas. E merece também ser cuidado. Mas, num cenário tão novo, quem vai cuidar da saúde mental dos professores? 

Apesar da dedicação tão louvável, é preciso dar um passo para trás, observar as dificuldades que enfrentamos e perceber que quase nunca a pandemia foi, de fato, igual para todos. Muitos estudantes não conseguiram acompanhar as aulas on-line e tiveram prejuízos sérios de aprendizagem que talvez nunca possam ser ajustados. Mesmo as escolas mais maduras na cultura digital relatam problemas com a adequação emocional dos alunos, a falta de socialização e de preparo das famílias para lidar com o ensino remoto emergencial.   

Decisões rápidas foram colocadas em prática bruscamente, e papéis e responsabilidades foram redistribuídos em pouco tempo. A tal situação pandêmica que afeta a todos exigiu a junção de esforços, o redesenho de ações e atividades, em que as famílias e os educadores precisaram se enxergar como parceiros em prol do desenvolvimento dos alunos. Só onde houve união e compreensão foi possível manter algum tipo de desenvolvimento. 

Mesmo com todas as dificuldades, encontramos saídas importantes como sociedade e como agentes de transformação. Não somos mais a mesma humanidade de dezembro de 2019, quando começamos a ouvir falar da Covid-19. Estamos aprendendo a conviver com as nossas diferenças, incertezas e perdas. Não tem sido um processo igual para todos. Não será um futuro igual para todos. Mas, sem dúvida, precisou surgir uma pandemia jamais vista para mobilizar todos os povos sobre a necessidade de mudanças. 

Estaríamos nós sendo os pioneiros da Idade Pós-contemporânea? Seja o que for, com as lanternas dos celulares em mãos, sejamos todos desbravadores do novo que está por vir. 

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