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Novos comportamentos: o educador na era digital

A pesquisa inédita e exclusiva Comportamento digital do educador brasileiro ouviu 5,5 mil educadores e foca no processo de mudança provocado pelo desafio de manter a educação viva durante a pandemia.

Texto Paulo de Camargo

Entre todas as incertezas da pandemia e o temor da Covid-19, os desafios de absorver rapidamente novas tecnologias e a necessidade de acolher alunos e famílias, a escola viveu um ano divisor de águas, que definirá metodologias, formatos e novos canais para a próxima década. Apesar de tantas interrogações, algo é certo: os educadores mudaram, aprenderam, tornaram-se mais proficientes no uso de ferramentas tecnológicas que antes os assustavam e se sentem mais preparados para o futuro. 

Para celebrar a resiliência globalmente reconhecida desses profissionais e ouvi-los sobre a experiência de 2020, a Educatrix lançou a pesquisa O comportamento digital do educador brasileiro. Ao todo, o estudo contou com a participação de mais de 5.500 profissionais da educação da rede pública e privada de todo o Brasil e questionou o que pensam e o que planejam para o futuro. 

Os resultados revelam um intenso processo de aprendizagem, em que temas considerados tabus entre os docentes, ao longo dos últimos anos, tornaram-se práticas incorporadas ao dia a dia. A autoestima profissional cresceu, bem como a vontade de aprender. Mas é preciso cuidar logo da estrutura da profissão, que precisará de novas regulamentações e de um reconhecimento social mais amplo da realidade vivida pelo educador.

Veja, ao longo desta reportagem, alguns dos principais achados desse levantamento, que certamente espelha quem são os profissionais que retomam às aulas presenciais e inserem de uma vez por todas o ensino híbrido, ainda sob tantas incertezas, em 2021.

Quando a pandemia chegou, quem sabia o que fazer?

Quando as notícias davam conta pela primeira vez do potencial destruidor da pandemia de Covid-19 e prenunciavam o fechamento de escolas, os profissionais da Educação foram pegos no contrapé. Não apenas eles, mas a própria escola. 

Apenas 25% dos diretores ouvidos já se sentiam preparados para o que viria. Nesse momento, os três maiores desafios apontados pelos entrevistados foram: 

  • Preparar a escola para agir com rapidez; 
  • Formar professores para o uso das ferramentas digitais;  
  • Planejar o que fazer, num cenário composto apenas por dúvidas.

Maturidade digital em crescimento

Como todos sentiram na pele, a conquista de maior proficiência no uso dos recursos tecnológicos pelos professores foi uma das principais consequências da pandemia na Educação. Se apenas 18,3% dos educadores ouvidos consideravam que a escola já tinha uma cultura digital implantada quando a pandemia começou, 92,9% acreditam ter aprimorado as competências nas habilidades digitais. 

Isso aconteceu também entre os diretores escolares: nada menos que 79% dos gestores se consideram agora capazes de propor e organizar reuniões e outras atividades de gestão, utilizando ferramentas digitais. 

Ao mesmo tempo, 80,1% dos educadores dizem ter descoberto que tecnologia não é um bicho de sete cabeças. Metade dos que participaram da pesquisa acredita ter aprendido em um único ano o que não aprendeu ao longo de toda a sua carreira, no campo digital. Quando se consideram apenas os docentes de escolas públicas, o percentual sobe para 79,3%.

Foi um ano em que escolas, gestores e professores aprenderam a se relacionar com parceiros tecnológicos — para 75% dos entrevistados, eles foram essenciais. Entre os recursos adotados, o pacote Office, da Microsoft, e as plataformas de educação remota (como Microsoft Teams, Google Meet, Zoom e outras) foram os mais utilizados.

Crescimento profissional em alta: aprender sempre

O desafio de superação representou uma revisão de todo o percurso profissional. Foi um momento de olhar para a própria formação: 93% dos gestores puderam perceber melhor quais competências deveriam agregar à sua própria formação. Ao mesmo tempo, 67,8% dos educadores se sentem mais competentes e 94,4% querem aproveitar o embalo para continuar aprendendo sobre o uso das ferramentas digitais – tanto para os que têm 5 anos ou menos de profissão como para os que já estão na estrada há pelo menos 30 anos.

Novas perspectivas de carreira também se abriram para os professores: 65,9% dos entrevistados passaram a enxergar novas possibilidades profissionais a partir do que aprenderam em 2020. Um novo horizonte parece sorrir com o mesmo brilho para os que iniciaram sua profissão há menos de 5 anos e para aqueles que já lecionam há três décadas.

Times mais fortes

Os professores não cresceram apenas individualmente. O enfrentamento coletivo dos problemas e a necessidade de construir redes de apoio mútuo elevaram o trabalho em equipe a um novo patamar, tanto para os gestores como para os professores. Para 84,4% dos entrevistados, as equipes se fortaleceram, e 72,9% se sentiram parte de um grupo que se apoiava mutuamente. A maior parte dos gestores acredita que os vínculos entre a escola e a comunidade vão sair mais fortes de todo esse processo.

Autoestima em alta: muito orgulho de ser professor

Da mesma forma, o processo intenso vivido em 2020 trouxe uma nova relação entre os educadores e o reconhecimento de seu trabalho pelas famílias de seus alunos, o que refletiu no aumento da autoestima – ao menos no campo profissional. Conforme as respostas, 82,7% dos participantes afirmam sentir, como nunca, orgulho da profissão que escolheram, com resultados equivalentes na escola pública e na rede privada.

Desafios passam por nova regulamentação da profissão

Somadas todas as conquistas profissionais e coletivas do professor, a pandemia deixou claro que a legislação que regulamenta a carreira precisa ser atualizada. As aulas remotas aconteceram mediante grandes sacrifícios pessoais dos educadores, nem sempre reconhecidos no âmbito profissional e, muito menos, pela sociedade e pelo poder público.

Nada menos que 72% dos entrevistados se sentiram trabalhando 24 horas por dia, sem tempo para a vida pessoal, e outros 38,5% afirmam não aguentar outro ano no mesmo ritmo de trabalho. 

Cerca de 20% dos educadores chegaram mesmo a pensar em mudar de profissão, diante dos desafios que enfrentaram – em proporção levemente superior na escola privada. A invasão da privacidade, em lives transmitidas das casas dos professores, incomodou um terço dos educadores ouvidos. De repente, os alunos passaram a habitar o espaço pessoal dos docentes, que tiveram de resolver questões tecnológicas, investir em internet, reservar ambientes e misturar sua vida doméstica e profissional. Por isso, é natural que, para 84,9% dos educadores, as regras que regulamentam a profissão precisem ser atualizadas urgentemente – até porque o uso de novas tecnologias representa, para 71,7%, sobrecarga de trabalho, e não diminuição.

A tecnologia: uma aliada do professor, mas ainda há resistências

Outro impacto importante do aumento da maturidade digital foi a superação de antigos preconceitos: os educadores perceberam as novas ferramentas como aliadas no processo de ensino-aprendizagem. 

Apenas 12,7% dos educadores ouvidos discordam da ideia de que a tecnologia permite uma educação mais personalizada. Ao mesmo tempo, 63,5% dos entrevistados acredita ser possível articular presencial e virtual, ou seja, trabalhar de forma híbrida, com ganho para todos.

Não se deve cair no engano de que as resistências estão superadas. A pesquisa mostra que ainda há preconceitos a serem vencidos. Basta ver que um terço dos educadores prefere trabalhar no papel, para depois digitalizar as informações. As experiências virtuais ainda são vistas como sempre inferiores às presenciais para 42,8%: para estes, tudo o que a escola faz acontece melhor presencialmente. Para 25% dos entrevistados, as novas tecnologias não mudam substancialmente as práticas educativas.

Por fim, na média, 27,4% dos educadores querem que a escola volte a ser o que sempre foi, tão logo passe a pandemia. Na rede privada e na pública, curiosamente, a proporção dos saudosistas é maior para os novos professores do que para os mais experientes. Enquanto cerca de 37% dos profissionais com menos de 5 anos de atividade pensam no retorno à mesma escola, o mesmo é verdade para apenas 19% dos educadores da rede privada e 25% dos da escola pública com mais de 30 anos de casa.

Sobre as perspectivas para 2021

E sobre 2021? O que pensam os professores? Para a maioria, predomina uma visão esperançosa. São 85,6% os que creem que saberão ensinar melhor com o uso de recursos digitais, quando as aulas presenciais retornarem. É interessante ver que os mais otimistas são os professores da rede privada mais antigos.

Ao mesmo tempo, os educadores estão dispostos a seguir aprendendo, via remota: para 73% dos participantes do levantamento, a formação continuada pode seguir a distância, como em 2020.

Para todos, porém, entre as prioridades estão três aspectos principais: em primeiro lugar, garantir a segurança sanitária, com a adoção dos protocolos de saúde definidos. Depois, acolher os alunos que voltam, restabelecendo os vínculos que caracterizam a educação presencial. Por fim, avaliar os alunos para ter um quadro mais completo sobre o que, de fato, eles aprenderam, durante a pandemia.

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