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Participação estudantil

Saiba como envolver adolescentes e jovens nas decisões da escola e promover uma cultura de participação capaz de ampliar o engajamento, promover a aprendizagem, melhorar a educação e contribuir para a democracia.

Texto Porvir

As escolas no Brasil têm problemas crônicos, que comprometem a qualidade e a equidade da educação pública, além de manterem práticas antigas e desconectadas das demandas dos alunos e do mundo contemporâneo. Ainda não sabemos como solucionar esses grandes dilemas, mas uma coisa é certa, teremos dificuldade de avançar sem envolver os alunos nesse processo. 

As principais tendências de inovação em educação estão intrinsecamente relacionadas à intensificação da participação dos estudantes. A personalização da aprendizagem, por exemplo, requer que os alunos sejam cada vez mais considerados em suas especificidades e tenham crescente autonomia e flexibilidade para escolher o que e como aprender. As novas tecnologias também criam condições para que os alunos sejam mais autônomos e possam fazer escolhas.

O aprendizado mão na massa cria espaço para a autoria, estimulando que os estudantes coloquem em prática seus conhecimentos e habilidades por meio da criação de projetos e produtos. Currículos voltados para a vida no século 21 também demandam pedagogias mais ativas, que não só ampliam a participação dos estudantes, mas desenvolvem sua capacidade crítica, criativa e propositiva.

Até mesmo as tendências em relação à gestão e ao ambiente escolar demandam maior engajamento dos alunos nos processos decisórios, relações mais horizontais e colaborativas, além de espaços e infraestrutura mais conectados com o universo das crianças, adolescentes e jovens.

Promover a participação dos estudantes requer a disposição de gestores e professores para compartilhar informações e poder. Abertura, diálogo, entendimento e cooperação são palavras-chave para qualificar o processo, que deve buscar equilibrar as responsabilidades que serão sempre dos educadores com as contribuições que podem vir dos alunos.

Se por um lado é fundamental não subestimar a capacidade dos estudantes, mesmo quando são crianças ou parecem pouco engajados, por outro não podemos romantizá-los, nem transformar a participação em um fardo. O engajamento precisa fazer sentido e estar à altura da capacidade dos alunos, bem como contribuir para a sua aprendizagem e desenvolvimento, objetivos primordiais da escola.

A participação também deve considerar a cultura dos estudantes, ao invés de forçá-los a se encaixar em modelos próprios do mundo adulto. Ludicidade, arte, cultura e mídias digitais são alguns dos elementos que potencializam a contribuição, especialmente de crianças, adolescentes e jovens. A intenção é levá-los a sério e respeitar as suas próprias formas de organização, expressão e contribuição.

Para aliar teoria e prática, reunimos as principais formas de participação dos alunos na escola em quatro elementos:  

Escuta

Consultar os estudantes sobre seu próprio processo educativo

Atualmente, os mais diversos setores da sociedade adotam a prática de ouvir seus usuários para entender se estão satisfeitos com o serviço ou produto que lhes é oferecido. As redes de ensino e as escolas, no entanto, raramente perguntam a opinião dos seus alunos sobre o que acontece no seu cotidiano, muito menos sobre novas decisões que afetarão a sua vida escolar. Em grande parte das escolas, os descontentamentos e as sugestões dos alunos não ultrapassam o limite das conversas de corredor. A falta de diálogo costuma favorecer a apatia e o conflito. O problema se acirra quando o nível de insatisfação aumenta e provoca reações mais radicais, como indisciplina, depredação, protestos e ocupações. Mesmo os problemas mais difíceis precisam ser discutidos pela comunidade escolar, tanto para que possam ser reconhecidos e resolvidos, quanto para que não se transformem em algo maior e acabem comprometendo as relações de confiança entre gestores, professores e estudantes. Escutar os estudantes significa criar oportunidade para que possam compartilhar opiniões sobre diferentes assuntos, desde os mais corriqueiros, como a infraestrutura da escola e as atividades em sala de aula, até os mais complexos, como mudanças no currículo e na organização escolar. Para engajarem os alunos, essas consultas precisam ser realizadas com o suporte de dinâmicas, instrumentos e linguagens compreensíveis e estimulantes para eles. Também precisam ser inclusivas, para que capturem múltiplas vozes, mesmo as mais silenciosas e dissonantes. Nesse caso, a opinião dos alunos mais “comportados, extrovertidos e eloquentes” não deve se sobrepor à dos mais “rebeldes, tímidos ou que apresentam dificuldade de se expressar”. Todas as perspectivas precisam ser contempladas. Aqueles que escutam devem ainda ter a sabedoria de não se colocar na defensiva, nem se sentir pressionados a acatar tudo o que é sugerido. No entanto, devem realizar devolutivas consistentes, que deem transparência às percepções e propostas coletadas e indiquem como serão encaminhadas. Um processo de escuta dos estudantes pode ter efeito reverso quando não gera consequências concretas.

Escolha

Permitir que os estudantes façam escolhas em relação ao seu processo educativo

Os estudantes são diferentes e aprendem de formas diversas. Às vezes, o que se encaixa bem para uns não funciona para os demais. Outras vezes, o que os educadores propõem não faz sentido para os alunos. Quando eles têm a oportunidade de escolher entre duas ou mais opções, não apenas encontram alternativas mais interessantes, mas também se sentem mais valorizados e engajados no processo. Nem tudo pode ser escolhido pelos estudantes. Eles sabem disso e entendem que grande parte do que acontece nas redes de educação e nas escolas deve ser proposto por profissionais experientes. Ainda assim, desejam ter mais flexibilidade e autonomia, inclusive para se sentirem mais identificados e motivados em relação à sua aprendizagem. Quando gestores e professores são mais prescritivos e já trazem tudo pronto, correm o risco de não se conectar com os interesses, desejos e necessidades de seus alunos, gerando desengajamento e dificuldade de aprender. As escolhas podem ter caráter simples, como a opção entre uma aula no pátio ou no laboratório de informática, entre dois ou mais tipos de exercício ou trabalho em grupo, entre atividades de discussão ou de dramatização, por exemplo. Mas também têm a possibilidade de envolver decisões mais complexas, como as disciplinas a serem cursadas, no caso da flexibilização curricular. Para escolher, os alunos precisam desenvolver sua capacidade de analisar, tomar decisão e assumir as consequências sobre as suas escolhas. Quando a escola oferece esse tipo de situação para seus estudantes, também os prepara para ser mais assertivos em relação às demais escolhas que farão ao longo da vida.

Coautoria

Fomentar a participação dos estudantes em processos autorais

Os estudantes tendem a se engajar mais na sua aprendizagem quando têm espaço para criar. A autoria começa com pequenas produções em atividades educativas cotidianas, como desenhos, cartazes e dramatizações. Ganha potência com criações mais robustas, como peças de teatro, composições musicais, vídeos, blogs, revistas em quadrinhos e animações. E cresce ainda mais quando os alunos se envolvem na elaboração de projetos, seja para desenvolver um produto, como um livro, jogo, robô ou foguete de garrafa pet, seja para resolver um problema concreto, como a melhoria de uma praça, a preservação do meio ambiente ou a redução de conflitos. Os estudantes também começam a ser convidados a criar práticas educativas junto com seus professores. Mais familiarizados com as tecnologias e outros recursos pedagógicos contemporâneos, apoiam seus educadores a planejar atividades mais interessantes e variadas. Em encontros de cocriação, professores e alunos refletem sobre o que não está funcionando em sala de aula e, juntos, desenham novas possibilidades. Além de desenvolver diversas capacidades importantes, como criatividade e colaboração, o engajamento dos estudantes como coautores do seu processo educativo os aproxima da escola, ao mesmo tempo que apoia a transformação do ambiente escolar para conectá-lo com a realidade dos alunos do século 21.

Corresponsabilização

Envolver os estudantes na busca de soluções para os desafios da escola

Redes de ensino e gestores escolares são responsáveis por assegurar que as escolas cumpram o seu papel e garantam o direito de cada criança, adolescente e jovem a uma educação básica de qualidade. Os estudantes, porém, não precisam ser beneficiários passivos desse processo. Além de ouvir suas opiniões e permitir que façam escolhas e tenham experiências autorais, as instituições de ensino também devem engajá-los em discussões e iniciativas voltadas a melhorar o seu cotidiano educacional. Escolas que adotam modelos de gestão mais democráticos já costumam abrir espaços interessantes para a participação efetiva dos alunos via grêmios, assembleias, conselhos e instâncias afins. No entanto, boa parte das discussões em que eles se envolvem ainda trata de temas laterais, como festas e eventos esportivos. Experiências mais aprofundadas têm conseguido engajar os alunos na solução de questões realmente desafiadoras, como a indisciplina, a depredação física, as dificuldades de aprendizagem e o orçamento da escola. Além de trazerem novas perspectivas sobre esses problemas e suas causas, os estudantes conseguem apoiar os educadores a formular soluções mais efetivas e a implementá-las. Uma nova regra ou iniciativa decidida apenas pelo diretor tem menos chance de ser abraçada pela comunidade escolar do que algo que é construído coletivamente, inclusive com a participação dos alunos, os quais têm ainda a importante missão de mobilizar os seus pares. Nesse caso, o efeito reverso pode se manifestar quando gestores tomam suas decisões e convidam os estudantes apenas para endossá-las e difundi-las, sem que o diálogo tenha de fato acontecido. Mais uma vez, é preciso respeitar as opiniões e propostas dos alunos e engajá-los em atividades de discussão e busca de solução que os façam se sentir seguros, confortáveis e motivados. Não podemos esquecer que eles são crianças, adolescentes e jovens e, portanto, contribuem melhor quando envolvidos em ambientes que consideram as suas peculiaridades. Reuniões prolongadas e com muito falatório técnico costumam inibir a participação da maioria dos estudantes. Por outro lado, eles podem ser extremamente colaborativos quando envolvidos em atividades dinâmicas e criativas, nas quais se expressam por meio das suas próprias linguagens, narrativas e estratégias.


Para saber mais

  • Conheça o conteúdo completo do guia aqui: porvir.org/especiais/participacao
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