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Ubiquidade: a escola em toda parte?

Um olhar sobre formação, experiências e expectativas dos nossos alunos. 

texto  Ivan Aguirra

Segundo o filósofo Novalis, “a filosofia é um impulso para estar em casa em toda parte”. No século 18 a internet não era conhecida, mas as viagens e as recentes descobertas configuravam um mundo cada vez maior. Com a consciência de que o mundo não era só o que se via ao redor, a busca pelo desconhecido aumentava. Contudo, em pleno século 21, tudo parece estar ao alcance de um clique e, com isso, nosso comportamento parece também ter se alterado. Queremos estar em toda parte. E não só isso, mas estando em toda parte ao mesmo tempo, nos sentimos obrigados a ser onipresentes.  

Durante a pandemia essa sensação se agravou. Crianças e adolescentes não podiam frequentar a escola em seu espaço físico. A escola pareceu migrar para a tela do computador ou do celular. O que antes fazia parte de um ritual, sair de casa, ir à escola, enfrentar adversidades do clima, encontrar colegas, professores, estar em um espaço ao mesmo tempo dentro e fora do cotidiano, deixa de ser assim. O ritual agora é ligar o celular e entrar no ambiente virtual para estudar. Estar logado significa, agora, estar na escola. Mas é assim mesmo? 

É fundamental diferenciar o fato de que podemos aprender em todo lugar a qualquer momento do fato de aprendermos na escola. Ali há finalidades e objetivos mais claros. Posso aprender algo por acaso, andando na rua, mas é uma forma de aprendizagem distinta, embora igualmente válida. Posso até mesmo complementar um momento com o outro. Mas não deveríamos sentir que estamos na escola em toda parte. Crianças e adolescentes começaram a padecer do mesmo mal que os adultos, que se sentem pressionados a estar disponíveis em qualquer lugar.

A ubiquidade parece se alastrar por todos os lados. Ubi, em latim, se usa para indicar um local. A língua espanhola conservou, por exemplo, esse sentido com a palavra ubicación. Assim, ubiquidade indica o fato de se encontrar por toda parte.  

Partindo disso, fica o questionamento: que tipo de ensino pode ocorrer em uma situação de isolamento? É perigoso normalizar uma nova forma de ensino e não pensar em suas consequências a médio e longo prazo. “Mas há uma tendência para isso.” Não existe tendência natural que não seja ação humana e, por isso, trata-se de uma escolha. Não há problema em optar por uma ou outra forma, desde que se tenham em mente as diferenças e o que elas acarretam.  

Não é possível igualar experiências. Cada criança vai sentir de um modo distinto o distanciamento, o não território escolar transformado em escola. A experiência de milhões de indivíduos de serem obrigados a acordar mais cedo e ir para a escola tem suas consequências próprias. Cada dia é único, mas não significa um mundo de maravilhas. Romantizar a infância é um dos erros mais perigosos que qualquer pedagogia pode cometer.  

Se somos constituídos por microexperiências, o fato de sair de casa, deixar esse suposto conforto, ir à escola (desejando ou não), estar em outros espaços e tendo outras experiências em diferentes aspectos não é um tipo de enriquecimento que se perde? 

Exigir das crianças uma disponibilidade constante é injusto. Se com todo o aparato digital acreditamos que precisamos sempre estar disponíveis para atender uma chamada, responder a um e-mail, não podemos cobrar isto das crianças a não ser que queiramos torná-la miniadultos. 

Um dos resultados é a ansiedade generalizada. Quando escrevemos para alguém via WhatsApp e não temos uma resposta imediata, parece que o mundo caiu. Esquecemos que vivemos em contextos físicos. Milhares de causas distintas podem levar a uma não resposta, até mesmo o desejo de não responder naquele momento.  

Somos solicitados a todo momento ou nos deixamos solicitar e caímos em um círculo vicioso? São questões nossas que não temos respostas, quiçá os alunos.


IVAN AGUIRRA IZAR Gerente de Comunicação e Marketing

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