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Professor: o gestor do currículo

Documentos oficiais, escola, alunos, sociedade e livro didático: todos determinam o currículo. E você, professor, onde entra nessa história?

Por Roberta Amêndola

Muito além de ser uma lista de objetivos, conteúdos, atividades ou formas de avaliação a serem explorados em sala de aula, o currículo é uma construção histórica, cultural e social. Isso significa que as decisões sobre os conhecimentos que o compõem perpassam diversas esferas, a começar pela legislação nacional chegando às instâncias internas e externas à escola.

Dessa combinação de agentes e interesses, resultam os currículos – oficial, real e oculto -, que irão permear o fazer do professor. Mas como contemplar todas essas demandas se elas são variadas e dinâmicas?

Demanda pessoal

Antes de partir para desvendar e atender às necessidades de conhecimentos da sociedade, o professor precisa entender as suas próprias demandas e o seu papel. Quais são as suas crenças sobre ensino e aprendizagem? Que relação estabelece com os currículos: aceitação, questionamento ou personalização?

A educação moderna desloca o protagonismo do educador para o estudante e exige uma postura de abertura e constante desenvolvimento. Em geral, os educadores foram formados para deter e transmitir conteúdos e sentem-se inseguros quando podem — e devem! — intervir nos objetivos de aprendizagem, nos saberes tradicionais de suas áreas e nas formas de lidar com eles em sala de aula.

Para atuarem nesse novo contexto, precisam buscar uma (trans)formação continuada que reveja paradigmas e contribua para reposicionar as teorias e os direcionamentos legais em suas práticas pedagógicas. Antes de se voltarem para as demandas do entorno, precisam conhecer e atender às suas.

Demandas globais

Os documentos oficiais

Para dominar o currículo, professores e gestores precisam conhecer a legislação nacional. Ao longo do tempo, houve diversas tentativas de estabelecer leis (Lei de Diretrizes e Bases), parâmetros (Parâmetros Curriculares Nacionais), orientações (Orientações Curriculares), diretrizes (Diretrizes Curriculares Nacionais), entre outros textos que visavam direcionar o planejamento e a ação docente. No entanto, apenas recentemente, com a publicação das primeiras versões da Base Nacional Comum Curricular, começou a ser escrita uma relação mais prescritiva de objetivos e conteúdos que correspondem aos direitos educacionais dos cidadãos brasileiros, relacionando áreas do conhecimento e etapas de escolarização.

Por serem textos apenas norteadores, os documentos vigentes não determinam a composição do currículo, cabendo tal tarefa ao professor e aos demais agentes do meio escolar. Assim, escola, alunos, sociedade e livro didático ganham autonomia para estabelecer o que e como se deve ensinar e avaliar em determinada disciplina e os seus respectivos valores, habilidades e competências. Mas, como fazer isso? O primeiro passo é olhar para a própria escola e entender suas necessidades.

O papel do livro didático na construção do currículo

O contexto nacional de ausência histórica de currículos oficiais favoreceu que os livros didáticos ocupassem esse lugar e contribuíssem para a determinação dos saberes escolares.

Alain Choppin, historiador francês especialista em edições didáticas, identifica quatro funções para os materiais: referencial, instrumental, ideológico-cultural e documental. A função referencial, também chamada de curricular ou programática, estabelece que os materiais são o suporte dos conteúdos e das habilidades que a sociedade considera importante transmitir aos jovens. Esse uso do livro didático como referência de currículo, proposto por Choppin, é o que predomina no ensino brasileiro em todas as disciplinas.

As obras escolares são desenvolvidas visando oferecer a alunos e professores um recorte dos conhecimentos da área, além de propostas de práticas pedagógicas que os consolidem. Os autores e editores que as concebem se baseiam nas noções de currículo estipuladas nos documentos oficiais, nas motivações sociais, nas tendências educacionais e em sua experiência.

No entanto, é importante ressaltar que o livro didático deve ser um meio e não um fim, ou seja, ele é uma ferramenta que auxilia o professor no planejamento, no desenvolvimento das aulas e na avaliação, mas não deve ser considerado o currículo de uma disciplina por não contemplar especificidades de cada realidade escolar. Os materiais são desenvolvidos visando atender às possíveis necessidades de estudantes de todo o país e cabe ao docente, com seu conhecimento do contexto em que atua, adaptá-los às suas demandas sociais e curriculares, personalizando o ensino e a aprendizagem.

Materiais didáticos, sociedade, alunos, escola e documentos oficiais: todos contribuem para a construção do currículo. Mas apenas o professor pode articular e atender a todos esses pilares da Educação!

A escola

Lugar do currículo por excelência, é nela onde ele se materializa e ganha personalidade ao refletir o seu Projeto Político Pedagógico (PPP). É preciso constantemente se perguntar: o que queremos ensinar e aprender? Como queremos ensinar e aprender?

Ao longo do ano letivo, o currículo deve ser visto e revisto pela comunidade, tendo em conta a escola que se quer construir e os alunos que se deseja preparar para a vida. Segundo Alfredo Hernando Calvo, psicólogo e pesquisador educacional espanhol, as principais fontes de inspiração e revisão constante do currículo são:

Gestores e educadores devem estar constantemente atentos às evidências que surgem nessas fontes para fazer ajustes nos currículos e torná-los “reais”. Essas fontes de inspiração funcionam como bússolas que indicam a direção das mudanças da vida e da escola.

Planejar, adequar, personalizar e flexibilizar são algumas das competências dos agentes escolares para construir um currículo vivo e ideal para a sua realidade. Para isso, devem articular todas as áreas do conhecimento e os seus docentes. Mas não só eles: é fundamental escutar também os alunos, os principais interessados.

Pode parecer que o docente perdeu importância em meio a tantos agentes que compõem o currículo e a escola nos dias de hoje. No entanto, é exatamente ao contrário. Informações estão disponíveis aos milhares em todos os meios impressos e digitais, mas apenas o educador é capaz de selecioná-las, organizá-las e didatizá-las para transformá-las em conhecimento significativo, com o objetivo maior de formar cidadãos críticos e aptos para transformar a sociedade.

São os professores quem, em suas atividades diárias, realizam a verdadeira Educação com base em uma gestão engajada e eficiente do currículo. São eles os que gerenciam constantemente as demandas de todos os envolvidos, com apoio nos materiais didáticos, em seus conhecimentos e na sua bagagem.

Curricular a vida e viver o currículo: eis o papel do professor! Vamos juntos encarar esse desafio?

O professor

Pode parecer que o docente perdeu importância em meio a tantos agentes que compõem o currículo e a escola nos dias de hoje. No entanto, é exatamente ao contrário. Informações estão disponíveis aos milhares em todos os meios impressos e digitais, mas apenas o educador é capaz de selecioná-las, organizá-las e didatizá-las para transformá-las em conhecimento significativo, com o objetivo maior de formar cidadãos críticos e aptos para transformar a sociedade.

São os professores quem, em suas atividades diárias, realizam a verdadeira Educação com base em uma gestão engajada e eficiente do currículo. São eles os que gerenciam constantemente as demandas de todos os envolvidos, com apoio nos materiais didáticos, em seus conhecimentos e na sua bagagem.

Curricular a vida e viver o currículo: eis o papel do professor!

Os alunos

No século XXI, a Educação extrapola os muros da escola, ou melhor, começa fora deles. O saber escolar é um entre tantos aos quais os alunos têm acesso. Assim, para serem relevantes, os conhecimentos de que necessitam e os que lhe são oferecidos precisam estar em sintonia. Nessa ânsia pelo novo que lhes produza sentido, os estudantes levam aos professores seus interesses — direta ou indiretamente — e interferem de forma colaborativa na composição do currículo.

A aprendizagem significativa atual requer habilidade docente para escutar, compreender, buscar recursos e didatizá-los para atender às demandas das suas turmas e, assim, compor um currículo personalizado.

Na era moderna, está superado o papel do docente como aquele que apresenta informações e dados aos alunos “vazios”. Seu lugar agora corresponde ao do curador-facilitador que articula os saberes escolares aos sociais. E por falar em sociedade, qual o lugar dela na construção do currículo?

A sociedade

A escola não é uma ilha isolada do mundo: é parte fundamental da sociedade. É pensando nas suas necessidades que deve preparar os alunos.

As demandas dinâmicas do cotidiano devem compor o conjunto de saberes, habilidades e competências que integram o currículo, pois estar preparado para elas será determinante para realização pessoal e profissional dos estudantes. Os alunos capacitados de hoje serão os cidadãos conscientes do futuro.

Cabe ao educador estar atento ao contexto em que atua, detectar as necessidades locais e globais e ressignificá-las em objetivos e temas escolares.

E com que recursos os professores podem contar para organizar o seu currículo?

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