Educação para as Mudanças Climáticas: O papel das escolas
As escolas precisam ser espaços de reflexão e mobilização, de construção coletiva de ação e, sobretudo, de produção da consciência necessária, para que todos possamos enfrentar melhor os tempos de aquecimento global em que já vivemos.

Texto: Luciano Monteiro
Realizada no Pará, em outubro, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) deixa muitos legados, como era de se esperar. Convoca para uma ação mais intensa, comprometida e articulada entre os países, com a participação de governos, empresas, organizações sociais, enfim, toda a sociedade civil. Mas deixa explícito, também, um chamado à educação sobre o papel das políticas públicas, das escolas, dos educadores, dos alunos e de suas famílias. Mas o que podem as escolas diante do aquecimento global?
A resposta para essa pergunta poderia ser a seguinte: a instituição escolar tem alcance limitado, quando é preciso conter com urgência as emissões de carbono ou de influenciar os líderes das nações que mais emitem CO2, em uma corrida contra o tempo. E, sim, a escola pode muito, quando se trata de introduzir novos paradigmas na educação, preparando novas gerações para um mundo impactado profundamente pelas mudanças climáticas.

Pelo menos desde a década de 1970, ficou claro que a educação tem um papel fundamental para o desenvolvimento sustentável, formando crianças e jovens com novas atitudes diante do consumo, da geração e do descarte do lixo e da economia de energia, de água e outros bens comuns. São processos formativos que devem acontecer na sala de aula, no currículo, nos projetos, bem como na própria escola, envolvendo gestão, professores, comunidade. As escolas avançaram muito nesse campo, embora sempre haja muito por fazer.
Mas agora se passa algo novo. A Unesco vem defendendo a necessidade de uma educação específica para as mudanças climáticas, que amplie a consciência de todos sobre os impactos do aquecimento global.
Viver em um mundo com temperaturas médias elevadas implica, por exemplo, desenvolver um sentido de resiliência a fenômenos ambientais que se tornam cada vez mais comuns. Requer o desenvolvimento de habilidades e competências específicas – por exemplo, as que permitirão atuar preventivamente, a agir cooperativa e solidariamente durante as crises, a reconstruir áreas afetadas, a apoiar a recuperação das populações mais diretamente afetadas pelos fenômenos climáticos.
Isso não é banal, tampouco intuitivo. Exige conhecimentos, tecnologias, protocolos e também valores, novos modos de intervenção no mundo, transformando o saber em ação.
Veremos cada vez mais situações sem precedentes, ou seja, sem experiências já vividas que possamos copiar ou reproduzir. Por isso, a sociedade civil como um todo precisa se preparar, especialmente os que vivem em áreas mais vulneráveis.
Educação é a palavra-chave. Para além das soluções criativas que o engenho humano pode desenvolver, ou da conscientização para agir antes, durante e depois de incidentes, há aspectos socioemocionais envolvidos. Já se configuram, por exemplo, diagnósticos classificados como ansiedade climática – que é o conjunto de manifestações psíquicas ligadas ao medo e à expectativa gerada pelo aquecimento global.
Imagine, por exemplo, que você viva em áreas sob risco de alagamentos ou de desabamento de encostas. Toda tempestade se torna potencialmente um fator de estresse emocional. Da mesma forma, a chegada de tornados e furacões, períodos prolongados de seca, nevascas ou temperaturas que se mantêm acima da média – tudo isso impacta a saúde emocional dos seres humanos.
É disso que trata a educação para o enfrentamento das mudanças climáticas. É tempo de as escolas revisitarem e reverem seus projetos pedagógicos, para atualizá-los diante dos desafios dos novos tempos. Mitigação, adaptação e resiliência climática são conceitos importantes, que precisam ser discutidos por educadores e por toda a comunidade escolar.

Claro, as escolas precisarão de suporte e políticas públicas focadas nesse desafio. Cabe ao governo investir em infraestrutura – por exemplo, na climatização das escolas – e, também, desenvolver planos de contingência que permitam realocar rapidamente prédios e alunos para áreas mais seguras. Hoje, já se sabe que há um absenteísmo diretamente ligado ao clima, como no caso das enchentes que assolam sistematicamente algumas regiões.
Há muito a fazer, e, como sempre, um primeiro passo a dar: tomar consciência, conversar sobre o tema, informar-se em fontes seguras e confiáveis. Mais do que nunca, o conhecimento científico deve ser valorizado na educação: o conhecimento gerado pelas ciências físicas, biológicas e naturais será essencial para aprimorar a capacidade humana de se adaptar aos novos tempos.
A escola precisa, também, dar voz às crianças e aos jovens, estimular debates sobre o tema, permitir que se coloquem e construam coletivamente a resiliência necessária em novos cenários. Não se trata de um tema para ser discutido apenas quando ocorrerem fenômenos que afetem a escola ou que surjam no noticiário. As mudanças climáticas devem se tornar uma pauta comum dos projetos, das feiras de ciências, das pesquisas e das produções dos alunos.
Por fim, as escolas precisam, também, tornarem-se definitivamente o exemplo daquilo que defendem: espaços ecológicos, em que todas as questões ambientais estão na ordem do dia, com geração de energia limpa, economia de insumos, hortas. O movimento Escolas Verdes cresce em todo o mundo e chegará também às nossas escolas – o quanto antes, melhor.
Muito longe de um alarmismo estéril ou do pânico ante a possibilidade de desastres naturais, as escolas precisam ser espaços de reflexão e mobilização, de construção coletiva de ação e, sobretudo, de produção da consciência necessária, para que todos possamos enfrentar melhor os tempos que já vivemos. Essa, afinal, sempre foi a principal missão da escola e dos educadores.
Luciano Monteiro
é diretor corporativo global de Comunicação e Sustentabilidade do grupo educacional Santillana.
Para Saber Mais
- BRASIL. Portal Gov.br. Movimento Escolas Verdes. Disponível em: https://mod.lk/ed27_sus. Acesso em: 30 jul. 2025.
