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Boas práticas para uma parceria de sucesso

Dicas para ajudar a florescer uma relação sólida com pais e responsáveis, com foco na formação integral dos alunos.

Texto Taís Bento e Roberta BentoFoto Ricardo Davino

Cada vez mais a relação da família com escola se torna essencial para que os alunos consigam aliar o prazer pelo aprendizado às habilidades que são fundamentais para uma formação integral. Hoje, os alunos de todas as faixas etárias têm uma relação negativa com os estudos. Ao mesmo tempo que os pais e responsáveis reconhecem a importância do aprendizado formal e veem a escola como fundamental para o desenvolvimento pleno de seus filhos, eles depositam exclusivamente na instituição a cobrança para que os alunos se envolvam com os estudos. Quando os pais se veem em situação de estresse, seja na hora da lição de casa, no momento em que recebem o boletim com notas baixas ou quando enfrentam problemas de comportamento, geralmente, procuram o culpado na escola: a metodologia aplicada, o material didático, a coordenação, o professor e, até mesmo, os colegas de sala. No desespero, cobram mudanças por parte da escola ou acabam por matricular o filho em outro colégio. Frustração generalizada quando os problemas voltam a se repetir, em intensidade cada vez maior, quanto mais o aluno cresce ou avança nas etapas de ensino. Tanto a escola quanto as famílias acabam reféns de um círculo vicioso em que cada qual espera do outro soluções para questões cujas respostas estão na ação conjunta.

Quem tem maior poder

Para envolver o aluno no processo de aprendizagem: família ou escola?Imagine que a mudança de postura para que os alunos possam gostar de aprender e ter melhor desempenho nos estudos seja uma porta. A família tem a fechadura e a escola possui a chave. Quem abre a porta é o aluno, mas somente se e quando fechadura e chave estiverem disponíveis. Ao ajustar a rotina da família para que, desde o nascimento, os filhos desenvolvam habilidades como paciência, capacidade de lidar com frustrações e autoestima, os pais cumprem seu papel de preparar a criança para o processo de aprendizagem formal. Ao manter formação continuada como parte da rotina da escola, gestores garantem que os professores terão as ferramentas para ajudar cada aluno a encontrar caminhos para desenvolver todo seu potencial. Nem família e nem escola conseguem sozinhas levar as crianças ao seu desenvolvimento pleno.

Quando nós, os adultos de hoje, éramos crianças, tínhamos uma rotina muito diferente daquela que nossos filhos têm hoje. Os momentos em família ajudavam para que as habilidades básicas necessárias para uma boa relação com os estudos fossem desenvolvidas em casa. Enquanto esperávamos a semana toda pelo nosso programa predileto e negociávamos o canal de TV que todos assistiriam juntos, desenvolvíamos habilidades como paciência, empatia e persistência. Desde muito pequenos, aprendíamos a dividir com outros irmãos a atenção de nossos pais. Compartilhar brinquedos, guloseimas e espaço na mesa era um pressuposto que fazia parte da vida de uma criança ou adolescente. Esses momentos sumiram da rotina familiar. Ao mesmo tempo que diminuíram em tamanho, as famílias têm menos tempo compartilhado para conversas e atividades. Somada a todas essas mudanças, vieram a correria do dia a dia e a necessidade desvairada de fazer diversas atividades simultaneamente: conversar ao telefone enquanto assiste à televisão, pagar contas on-line enquanto cozinha ou resolver questões de trabalho enquanto dirige. Há uma premissa básica aqui: crianças aprendem pelo exemplo, ou seja, seguem os passos dos pais. Nessa dinâmica em que tudo acontece ao mesmo tempo, restringem-se as oportunidades para desenvolver habilidades fundamentais para os momentos de estudo como senso de responsabilidade e a capacidade de foco e concentração. Assim, é urgente que tais oportunidades sejam inseridas na rotina das famílias para que os filhos possam desenvolver em casa as competências que servirão de base para novos conhecimentos, habilidades e atitudes que então a escola ajudará a aprimorar.

A escola, por outro lado, enfrenta enormes desafios para conseguir envolver o aluno que chega sem esses estímulos. A saída está na união de forças. Cabe à família ajustar a rotina para que os filhos aprendam em casa a focar em uma atividade de cada vez. Assim, ao chegar à escola, as crianças estarão completamente presentes, com toda atenção disponível. À escola, cabe ajudar os pais a compreender a importância do estímulo dessas habilidades dentro do contexto familiar e indicar quais rotinas favorecem tal desenvolvimento. Além disso, a formação continuada de professores é primordial. O docente precisa ser capaz de ajustar cada momento da aula de forma que alunos diferentes, com níveis diversos de habilidades e interesses sejam envolvidos. As ferramentas, estratégias e respostas que podem ajudar nesse desafio são frutos de pesquisas muito recentes. Sem atualização constante, o trabalho do professor torna-se uma missão impossível!

Família e Escola juntas: único caminho para o desenvolvimento das competências propostas pela bncc

Há inúmeros pontos a serem discutidos sobre a Base Nacional Comum Curricular. Sem dúvida, existem aspectos polêmicos e outros que poderiam – e esperamos que sejam – melhorados. Não seria justo, contudo, deixar de falar sobre um dos maiores benefícios que essa nova proposta traz para a educação de nosso país: o foco nas competências. Este é o caminho para levar a educação formal a se aproximar cada vez mais das necessidades dos alunos e da sociedade moderna. Sai do holofote o conteúdo, entram as competências com foco no desenvolvimento humano integral dos alunos.

Para cada competência existe um composto que envolve conhecimentos, habilidades e atitudes de uma pessoa. Não é pequeno o desafio da escola para garantir que seus alunos desenvolvam as dez competências gerais propostas pela bncc. Os resultados positivos, tanto no envolvimento do aluno como na sua formação integral, dependem cada vez mais da integração entre família e a escola. Isso vale não somente para o desenvolvimento das competências propostas pela bncc, mas também para outras que são alicerce sobre o qual as novas competências fincarão raízes para florescer em momentos diferentes para cada aluno. Muitos processos que, até então, eram assumidos pela escola terão o envolvimento da família para o sucesso do aluno. Avaliação é um exemplo. Se a competência pressupõe também habilidades e atitudes, é necessário avaliar o aluno em diferentes situações e momentos de sua vida. Só assim é possível compreender em que ponto ele está e quais são as necessidades a serem trabalhadas. O comportamento perante sua família e sociedade devem compor seu processo de avaliação. Por esse motivo, é tão importante comunicar às famílias sobre as mudanças, seus benefícios e sobre como os pais são capazes de colaborar para o sucesso da bncc, beneficiando o aluno, a escola, a família e toda a sociedade.

Quais comportamentos a família deve evitar?

Algumas atitudes dos pais e responsáveis podem prejudicar a relação que o filho tem com os estudos. Em geral, as famílias não se dão conta da postura e das mensagens que estão passando. Alertar para esses pontos pode ser o suficiente para que a parceria com a escola tenha sucesso ao longo de todo o ano letivo. Listamos abaixo algumas práticas que temos visto em escolas e que podem ser trabalhadas para melhorar a relação das crianças e adolescentes com os estudos:

  1. Querer que a escola se adapte à rotina que a família tem em casa.
  2. Tentar determinar as dificuldades que o aluno vai ter e se antecipar ao esforço do filho para que consiga mudar padrões estabelecidos.
  3. Justificar falta de envolvimento com problemas já resolvidos ou com limites que colocados pelo próprio bem do aluno. Exemplo: “ele não gosta de vir para a escola porque a professora do ano passado ficou brava quando ele bateu no colega.”
  4. Fazer comentários negativos sobre o professor, escola ou colegas de classe na frente do filho.
  5. Resolver questões simples que a própria criança poderia abordar com professores ou colegas.
  6. Cobrar da escola vigilância sobre comportamentos que são responsabilidades do aluno e dos pais. Exemplo: Pedir para a professora que não deixe o filho comprar determinado lanche na cantina.
  7. Pedir que a escola mude regras ou calendário de atividades para não frustrar o filho. Exemplo: mudar a data da festa junina porque o filho tem outro compromisso.

Como as famílias podem ajudar o trabalho da escola?

  1. Aproximar alunos que geralmente não se relacionam bem dentro de sala de aula. Está comprovado por estudos recentes da Neurociência Cognitiva que o relacionamento com os colegas de classe tem altíssimo impacto na aprendizagem. Encontrar colegas fora do contexto escolar, em situações organizadas pelas famílias, nos finais de semana ou fora do horário da aula, ajuda na criação de laços de amizade, tornando o ambiente da sala de aula e da escola altamente favorável para o aprendizado.
  2. Inserir a leitura e a escrita na rotina da família. Praticar a escrita em momentos de lazer e diversão em família é fundamental na fase de alfabetização. Mais que isso, incluir leitura e escrita no dia a dia da rotina doméstica é o único caminho para que os alunos possam desenvolver todo seu potencial ao longo da vida acadêmica. Somente a escola não consegue ajudar o aluno a criar o hábito e o gosto pela leitura. A criança aprende pelo exemplo, não se esqueça disso!
  3. Estabelecer uma rotina familiar equilibrada. A rotina dentro de casa afeta o desempenho escolar. A família deve garantir três elementos críticos no dia a dia para o sucesso na aprendizagem formal: atividade física, noites completas de sono e revisão diária dos conteúdos estudados na escola.
  4. Ter uma postura positiva em relação aos estudos e à escola. Quando o aluno sente que sua família não confia na escola, passa a agir de forma a colocar professores e pais em campos opostos, além de, inconscientemente, replicar a postura negativa na sua relação com os estudos.
  5. Participar ativamente da vida escolar e estabelecer parceria com coordenação e professores. As famílias precisam confiar no trabalho da escola para que possam se aproximar do dia a dia que seus filhos têm na escola. É preciso que a escola seja clara e assuma o compromisso com os conteúdos e a qualidade das aulas. Muitos pais sentem medo por não dominarem os conteúdos que os filhos estão aprendendo, mas precisam estimular a responsabilidade que os alunos devem assumir em relação ao seu processo de aprendizagem. Trabalhando juntos ao longo de todo o ano, professor, coordenação e pais olham na mesma direção: a formação integral do aluno/filho.

Inclusão: um benefício para alunos, famílias e escolas

Quando a escola assume de fato seu papel no processo de inclusão, a mudança para melhor acontece em todos os aspectos e atinge todos os alunos, professores e famílias. Adaptar uma aula ou um conteúdo para alunos com diferentes necessidades é uma arte que se aprende. É uma habilidade que se desenvolve e na qual a pessoa se torna expert quanto mais a pratica. A luz vem quando a visão sobre o processo já foi ampliada o suficiente para que escola e famílias entendam que todos os alunos têm necessidades especiais.

Pais e escolas que valorizam a diversidade conseguem beneficiar o crescimento cognitivo e emocional de seus filhos/alunos. “Pais de filhos com alguma necessidade especial?” Não, pais de filhos e ponto final. Há escolas que fazem um trabalho sério, lindo de se ver e que, pasmem, acabaram por descobrir que os grandes beneficiados são os alunos que, a princípio, não precisariam de adaptação do material ou plano de aula. Essas escolas não descansam jamais. Seguem na busca por caminhos para cumprir seu papel de ensinar, educar e, principalmente, transformar. Um ponto comum entre elas: não fazem o trabalho sem a participação dos pais, das famílias. “Das famílias de filhos de inclusão?” Não, das famílias! Não importa quem seja o filho, ele será beneficiado se a escola estiver fazendo um bom trabalho e se responsáveis e educadores, estiverem plenamente envolvidos.


GRUPOS DE PAIS NO WHATSAPP

A nova tendência entre pais de alunos de todas as idades é formar o Grupo de Pais da Turma no WhatsApp. Conforme a ideia foi se transformando em “febre”, perdeu-se também a mão em relação ao que pode ou deve ser discutido ou compartilhado. Rapidamente, esses grupos no WhatsApp se transformaram em geradores de conflito na relação entre pais de uma mesma turma e na relação das famílias com a escola. Com algumas boas práticas de convivência, é possível aproveitar esse recurso para o bem geral da nação escolar e manter o foco nos benefícios que a tecnologia trouxe para a interação entre os pais:

  1. O grupo não é um tribunal e os pais e responsáveis não são advogados dos filhos. Na ânsia de proteger a criança, as famílias aproveitam o grupo para falar sobre questões que os próprios filhos poderiam resolver na escola. E assim, contratempos que fazem parte da convivência escolar se transformam em enormes tempestades. A escola, muitas vezes, acaba sendo cobrada quando o assunto já virou briga envolvendo famílias que deveriam dar aos filhos o exemplo de relações sociais saudáveis.
  2. A escola não é um condomínio. Ouvimos com frequência reclamações das famílias sobre como assuntos que deveriam ser privados acabam se tornando públicos. O grupo é usado para confirmar suspeitas sobre o comportamento de outras crianças, reclamações sobre a tarefa ou sobre o professor. A escola é acionada depois que um contratempo já se transformou em um enorme problema e os pais já começam a conversa com a escola, afirmando que há vários outros pais que podem testemunhar seja lá qual for o assunto. Afinal, quem precisa de testemunha quando está disposto a conversar sobre um assunto importante?
  3. Esteja presente. Sair do grupo ou se recusar a participar não é a melhor opção. Estar presente, ainda que virtualmente, em um ambiente onde se pode conversar com outros pais que vivem dilemas muito parecidos com os seus pode ajudar muito no dia a dia. Além disso, está comprovado que as relações sociais impactam diretamente a capacidade de aprendizagem do aluno. Que tal usar o WhatsApp para marcar encontros divertidos entre famílias que têm tanto em comum?

Família e escola, vocês não estão sozinhos!

Em um momento em que o mundo está tão desafiador e com tantas mudanças, nem família e nem escola precisam ter todas as respostas e dar conta de tudo sozinhas. Para ajudar as escolas no papel de educar também as famílias para que juntos possam vencer o desafio de educar nossas crianças e adolescentes para o futuro totalmente desconhecido que terão, o SOS Educação traz diariamente dicas práticas em suas redes sociais, palestras e formações.

Taís Bento e Roberta Bento
Taís e Roberta Bento são mãe e filha, fundadoras do SOS Educação, site de educação do portal Estadão e responsáveis pela coluna Escola da revista Pais&Filhos. São palestrantes de grandes eventos de educação e viajam pelo país fazendo palestras para pais e formação para professores com o objetivo de estreitar a relação entre família e escola. São também autoras do livro “Socorro, meu filho não estuda!”


Para saber mais
SOS Educação www.soseducacao.com.br


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