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Trajetória | Maria Montessori e a autonomia para aprender

Uma luta pelo direito das crianças de serem elas mesmas. 

Por Glauce Neves

Até o final do século XIX, a ideia de que as crianças tinham direitos praticamente não existia. A primeira manifestação nesse sentido foi em 1892, mas foi apenas em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU (Organização das Nações Unidas) que tais direitos foram reconhecidos. 

No século XVIII, Jean-Jacques Rousseau defendia que a criança não devia ser tratada como um adulto em miniatura. Segundo ele, a infância é um período muito curto e é importante não impor a vontade de um adulto. Em concordâncias às ideias de Rousseau, já no final do século XIX, Maria Montessori dedicou sua vida para defender o direito das crianças de serem elas mesmas. 

Nascida em 1870, em Chiaravalle, uma pequena província de Ancona, na Itália, Maria Montessori foi a primeira mulher italiana a se formar em medicina na Universidade de Roma. Formou-se como psiquiatra em 1896 e no início de sua carreira dedicou-se aos estudos sobre crianças com deficiência. Pioneira também no campo pedagógico, colocava em prática suas habilidades na educação, usando suas leituras em psicologia, filosofia, antropologia, biologia e história.

Mesmo criticada pela sociedade por dar protagonismo à criança no aprendizado, Montessori foi defensora de um método que não contraria a natureza humana através de uma perspectiva desenvolvimentista e incentivava a autonomia das crianças para que elas construíssem seus conhecimentos. A partir da empatia que nutriu ao acompanhar os pequenos, Montessori criou o conceito de autoeducação, em que todos nascemos com a capacidade de ensinar a nós mesmos, desde que sejam fornecidas as condições essenciais. 

Entre suas ideias principais estão a educação pelos sentidos e a educação pelos movimentos. Para Montessori, o caminho do intelecto passa pelas mãos. “A criança ama tocar objetos para depois reconhecê-los”. Com isso, apostou em materiais didáticos que provocassem o raciocínio. Propunha uma sala de aula fora do padrão de sua época, sem mesas e cadeiras enfileiradas, nem horários específicos para recreio; para ela, não havia diferença entre o lazer e a atividade didática.

Enquanto os preceitos das correntes filosóficas do final do século XIX encaravam o conhecimento como essencialmente psicológico, passado de mestre para aprendiz, os métodos montessorianos acreditavam no desenvolvimento natural. Assim, o professor atuaria entre as crianças mais como um guia do que como mestre. 

Em 1906, foi criada a primeira Casa dei Bambini, onde Maria Montessori pôde aplicar sua metodologia. Todos os dias, das 9h às 17h, 50 crianças aprendiam a se vestir sozinhas, a cuidar da própria higiene, a fazer ginástica. Entre uma atividade e outra, desenvolviam noções de matemática e alfabetização. A criança fazia suas escolhas. Em 1913, foi inaugurado o primeiro programa de treinamento do método Montessoriano.

No mundo inteiro, mesmo as escolas que não seguem o seu método, se beneficiam de várias técnicas educativas propostas por Maria Montessori. Hoje, a educação infantil possui vários recursos que dão autonomia às crianças. O método caiu em desuso na década de 50, logo após a morte de sua idealizadora, mas foi resgatado no fim dos anos 60 e é popular até hoje. Segundo a Organização Montessori do Brasil (OMB), 56 escolas utilizam, atualmente, os ensinamentos montessorianos no país.

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