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Tudo sobre o Ideb: da teoria à prática

Sucesso da 5a temporada de lives da BNCC na prática: aceleradores do Ideb pode ser medido pela audiência, pela participação, pela qualidade e pela representatividade de todo um país que quer educar mais e melhor todos os seus alunos.

texto  Paulo de Camargo

O sucesso da série de dez seminários on-line, sob o tema BNCC na prática: aceleradores do Ideb, pode ser medido em números: realizados pela Moderna entre 26 de abril e 28 de junho de 2022, tiveram uma audiência total ao vivo de 5.070 pessoas. Foram 20,3 mil inscritos, mais de 5 mil certificados emitidos e milhares de visualizações que ainda continuam a acontecer. Tão importante quanto a audiência foi a representatividade. Assistiram às lives educadores de todas as regiões do país, de pequenas e grandes cidades, de instituições públicas e particulares, com diversas funções na escola. 

A métrica do sucesso da iniciativa pode ser expressa também na qualidade das apresentações dos 20 especialistas convidados, vindos das universidades, dos órgãos gestores da Educação e da sala de aula, das Secretarias de educação estaduais e municipais. Mediados pela educadora Carina Escabora, da equipe pedagógica da Moderna, os encontros conciliaram a visão teórica e as práticas pedagógicas, no chão da escola. Todos os dez seminários integram-se em um grande painel que permite um olhar 360º sobre um dos temas mais importantes para as escolas públicas: o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que completa 15 anos em 2022, fechando um ciclo inédito de cultura de dados na educação brasileira. Veja, abaixo, uma síntese de tudo o que foi abordado. Os encontros estão disponíveis no canal da Editora Moderna no Youtube.  

  • 5.070 pessoas ao vivo
  • 20,3 mil inscritos
  • +5 mil certificados emitidos e milhares de visualizações que ainda continuam a acontecer…

LIVE 1 • Ideb: passado, presente e futuro de uma proposta transformadora

Apresentada pelo diretor da Fundação Santillana, André Lázaro, a primeira live reuniu o economista Reinaldo Fernandes, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e criador do Ideb, e o secretário de educação de Sobral, Herbert de Lima. Fernandes contou ao público que, quando surgiu, o Ideb era apenas o final de uma discussão maior: a criação de um sistema de metas para a Educação Básica. “Era preciso ter uma meta, e escolhemos como parâmetro a média das escolas brasileiras no Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos]”, lembra. 

As metas estabelecidas para o Ideb venceram em 2021, e agora o país discute a remodelação desse indicador. “O Ideb contribuiu sim para guiar uma série de políticas públicas estaduais e municipais, e é um ponto de referência para a tomada de decisão”, testemunhou o secretário de educação de Sobral, Herbert Lima. Em sua apresentação, Lima mostrou como Sobral se tornou um dos municípios com melhor qualidade de ensino básico no Brasil a partir de uma série de ações, como a gestão democrática sem influência política; a autonomia de uso de recursos financeiros pelas escolas e o reconhecimento do trabalho do professor. Ele também mostrou a importância do monitoramento feito pelas equipes da secretaria, que visitam as escolas para apoiar o trabalho dos professores, bem como dos sistemas de avaliação realizados pelo município, pelo Estado e pelo governo federal.  

LIVE 2 • Avaliação como instrumento de gestão 

Discutindo o princípio da avaliação como ferramenta de gestão, a segunda live da série teve a participação do dirigente de educação de Sud Menucci, Luiz Miguel Garcia, também presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), e do secretário de educação de Teresina, Kleytton Halley. 

Garcia chamou a atenção para o momento que a educação brasileira vive em 2022. Para ele, a avaliação é uma bússola para o futuro. “Durante muito tempo olhamos a avaliação como instrumento para ver como foi desenvolvida uma política. Agora, a educação pede uma avaliação que possibilite um olhar para aquilo que precisa acontecer”, resumiu.  

Prova da importância da avaliação no desenho de ações é Teresina, conforme Kleytton Halley, secretário da educação. “Esta rede que tem dado certo é uma conquista de todos os que participam desse processo”, lembrou, pontuando a importância do sistema avaliativo. Teresina tem avaliações bimestrais, que começam no ciclo de alfabetização. 

“A coleta dos dados é automatizada por meio de um sistema que já identifica quais as habilidades da BNCC e do currículo de Teresina que foram avaliadas”, explica. “A discussão ocorre com todos os entes envolvidos. Mesmo os alunos da rede têm uma boa noção de quais são as habilidades a serem desenvolvidas”, mostrou. 

LIVE 3 • Evasão, abandono e repetência: como superar esses desafios na sua rede?

Seminário com maior audiência ao vivo, com 651 pessoas no pico, a terceira live mobilizou o público em torno de um dos mais profundos problemas da educação brasileira, agravados ainda pela pandemia: a perda de alunos e a baixa aprendizagem. O sociólogo Cesar Callegari, ex-secretário nacional da Educação Básica, mostrou que o Brasil vem arrastando por muito tempo atrasos históricos que apenas se tornaram mais visíveis durante a pandemia. “Nada justifica que um país como o Brasil tenha indicadores como nós temos”, avaliou. 

Para Callegari, o Ideb traduz um diagnóstico já conhecido da educação. Ele ressaltou que há boas experiências em muitos Estados e Municípios que precisam ser compartilhadas com urgência. “O Brasil precisa aprender com o Brasil”, afirmou. 

Entre os exemplos compartilhados está o do município de Ananindeua (PA), representado pela educadora Leila Freire. Segundo lembra, os educadores chegaram à conclusão que não adiantavam ações isoladas: essa era uma tarefa de toda a sociedade. Assim, foi criado o movimento Educa Ananindeua. “Foi um convite para que construíssemos alternativas”, explicou. Foram feitos contatos com as famílias, parcerias com os conselhos tutelares, o Ministério Público, entre outros. “Fomos às ruas. Foi um processo de conquista”, explicou. 

LIVE 4 • Língua portuguesa — caminhos para avançar

O seminário abriu com a apresentação do case do município de Cururipe. A educadora Verônica Maria Silva dos Santos exemplificou a proposta de Cururipe narrando o caso da Academia Coruripense de Educação e Letras (Acel). O trabalho surgiu como uma forma de conectar as crianças, os jovens e suas escolas. A literatura entrou como elemento de promoção da empatia em um momento em que os alunos sofriam pelo isolamento social. 

Assim, o projeto foi fortalecido durante o período de aulas remotas, com oficinas com escritores, pesquisadores e outros convidados, e culminou com a publicação de um livro digital. “Foi produzido um e-book sobre aprendizagens da pandemia”, mostrou. 

Com base no case, o público do seminário também pode acompanhar as explicações de Regina Braz Rocha, linguista e assessora nas áreas de Língua Portuguesa. Segundo Regina, os resultados das avaliações mostram que o país tem graves problemas a serem enfrentados. Para ela, o fato de uma criança ou um jovem frequentar a escola durante anos e não aprender é uma das formas mais cruéis de exclusão social e negação de direitos. “A avaliação é um agir necessário fundamental para garantir direitos de aprendizagens essenciais. O Ideb é um dos principais indicadores para acompanhar esse desenvolvimento”, afirmou. 

LIVE 5 • Aprendizado de matemática: vencer esse desafio é possível

O case do município de Novo Horizonte (SP) mostrou como é possível avançar no ensino de Matemática. O representante da Secretaria da Educação, Aroldo Alves, contou ao público como diferentes estratégias vêm surtindo efeito no município paulista. 

Como mostrou Alves, metade do tempo de planejamento que integra a carreira dos professores é utilizada em reuniões em que as equipes planejam conjuntamente o trabalho pedagógico, por área. As escolas têm na matriz o componente adicional Fundamentos da Matemática, dedicado ao trabalho com habilidades nas quais os alunos apresentam baixo desempenho nos simulados periodicamente realizados. “Nosso objetivo é fazer o aluno pensar matematicamente, e temos conseguido”, orgulha-se. 

O case de Novo Horizonte foi seguido pela intervenção de Ocimar Alavarse, que abordou as questões estruturais que, na sua visão, acarretam baixos índices de aprendizagem. Entre eles, a divisão entre as etapas escolares, que leva os alunos a passar por diferentes instituições ao longo de sua escolaridade. Para Ocimar, uma das questões que afetam a educação é levar todos os alunos à aprendizagem, e não apenas os melhores de cada turma.  

LIVE 6 • IDEB no pós-pandemia 

O Brasil foi um dos países que mais tempo mantiveram suas escolas sem aulas presenciais ao longo de 2020 e 2021. Por isso, entre as grandes dúvidas para educadores de todo o país, em 2022 é como recompor as aprendizagens. Esse foi o tema do seminário Ideb no pós-pandemia, conduzido pelo pesquisador Ivan Siqueira, membro do Conselho Nacional de Educação. 

Siqueira chamou a atenção para a necessidade de se rever o Ideb. “Precisamos de indicadores que apontem para questões sociais, raciais, de gênero, regionais”, diz. Para ele, o país não pode colocar toda a responsabilidade sobre as escolas, que não são responsáveis pela pandemia e pela desigualdade, em especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para ele, é preciso apoiar o trabalho dos professores, e o Sistema Nacional de Educação será um instrumento essencial. “Deveríamos verificar onde os indicadores mostram situações mais graves e desenvolver projetos comuns, envolvendo a universidade e a sociedade como um todo”, diz. “É o que está sendo feito mundo afora; não é preciso reinventar a roda”, argumenta. 

LIVE 7 • Preparando a escola para aplicar a prova brasil: um passo a passo

Dois diretores de escolas reconhecidas pelos resultados alcançados conduziram esta formação: Anna Elen Ferreira, do Centro de Ensino Fundamental de Brasília, e o historiador João Paulo de Araújo, da Escola Estadual dr. Pompílio Guimarães, de Belo Horizonte. 

Na escola de Anna Elen, em Gama, o retorno às aulas chegou com questões como crises de ansiedade e problemas no campo emocional. No plano da aprendizagem, foram iniciadas aulas de reforço, em que os conteúdos atuais são trabalhados paralelamente aos que deveriam ter sido aprendidos nos anos anteriores. A escola também promoveu o reagrupamento para personalizar o atendimento e vem trabalhando com os resultados das avaliações como uma diretriz para que o trabalho possa avançar.  

Já na Escola Estadual dr. Pompílio Guimarães, dirigida por João Paulo Araújo, a perspectiva é de envolver a comunidade em um processo de corresponsabilização. Durante a pandemia, diante da constatação de que a maior parte dos alunos não teria acesso a conteúdos digitais, os professores foram à casa dos alunos. “Não apenas para entregar o material, mas para dizer: estamos aqui”, conta Araújo. 

Para ele, o que diferenciou o trabalho de sua escola foi de não admitir que a pandemia tirasse o foco na aprendizagem do aluno. “Garantir educação pública sempre foi um enorme desafio. A pandemia foi só mais um obstáculo”, diz. Assim, sua escola conseguiu garantir a presença de 100% dos alunos na aplicação do Saeb, em 2021. 

LIVE 8 • Formação de professores: por que é preciso melhorar

A série de seminários da Moderna trouxe luzes também para o debate sobre formação de professores. A pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Patrícia Almeida, ampliou a discussão para trazer o tema do combate à desigualdade também para o âmbito da formação docente. “Precisamos formar professores para a justiça social”, defendeu a pesquisadora. 

Para ela, ensinar é uma ação complexa. “O professor ensina não só porque sabe, mas porque sabe ensinar. Logo, ensinar é uma ação especializada, fundamentada em conhecimento que é próprio do professor e o distingue de outros profissionais”, argumentou.  

Depois, foi a vez de o público conhecer as experiências da educação do estado do Paraná, com a educadora Eliana Provenci, da Seduc-PR, que apresentou o programa Grupo de Estudos Formadores em Ação. O programa, que promoveu a formação entre pares em reuniões semanais de 1h30, impactou 24 mil docentes por trimestre. “Nossos professores precisavam se sentir preparados, e estávamos lado a lado, aprendendo”, lembrou Eliana. 

LIVE 9 • Inclusão e equidade: caminhos possíveis

Na penúltima live, as discussões focaram a desigualdade educacional. O pesquisador Ernesto Faria mostrou que o principal indicador da educação brasileira, o Ideb, não colabora para promover a equidade – inclusive porque só considera os alunos matriculados nas escolas, e não os excluídos. Isso não quer dizer que o indicador não tenha sido muito importante. “Antes de 2005, não tínhamos indicadores para a educação brasileira”, lembrou o pesquisador.  

O debate teve sequência com Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do movimento Todos pela Educação, que apontou a importância do Ideb, que continua sendo, a seu ver, um farol para a gestão educacional. Apesar disso, conforme diz, há a necessidade de incorporar informações para o debate sobre equidade. “O dado não permite ver se o índice não foi produzido por resultados de grupos desiguais”, afirma.  

Por fim, Corrêa chama a atenção para que as escolas e redes atuem pela equidade sem esperar por mudanças no Ideb. “Temos experiências que precisam ser disseminadas de educadores que estão olhando para isso e fazendo trabalhos incríveis”, diz.  

LIVE 10 • Clima escolar e aprendizagem: possíveis conexões 

Os dez seminários IDEB fecharam com chave de outro com uma apresentação de nível internacional, com José Maria Avilés, da Universidade de Valladolid, na Espanha, e Telma Vinha, da Unicamp. O tema: Como a qualidade do convívio e do clima escolar pode afetar a aprendizagem dos alunos. 

Citando diferentes pesquisas, Avilés apontou características centrais em escolas consideradas competentes e eficazes. Um dos aspectos centrais é a gestão compartilhada, contando com as pessoas. “É uma liderança participativa”, diz. Outra característica essencial é a prioridade dada ao clima e ao convívio, com projetos que levam em conta a melhora na qualidade da convivência, dedicando pessoas e tempo a esse desafio, como prioridade de gestão. 

Telma Vinha trouxe a discussão para a realidade brasileira, ressaltando que no país o trabalho sobre a convivência se assemelha ao de um bombeiro, atuando só quando o fogo se alastra. “Em outros países, há planos institucionais, metas de convivência, com ações preventivas e promotoras da qualidade de clima”, lembra. “O clima e a convivência são fatores diferentes, mas inter-relacionados. O clima é a atmosfera, a percepção dos membros de uma comunidade; a convivência é a aprendizagem para a cidadania. Nossa formação como profissionais da educação para atuar nesse campo é muito precária”, afirmou.


Para saber mais

  • BNCC na prática 2022: Aceleradores do Ideb. Editora Moderna.
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