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Sejamos todos adolescentes

Não é sobre ter um projeto de vida, é sobre viver sua constante (re)construção.

Texto Ivan Aguirra

Mirando uma camada da memória da minha própria adolescência, observo períodos frequentes de inquietude, angústia e busca por novas vivências, desafiando tudo o que fosse desconhecido para mim. Quanto mais jovens, mais disruptivos, mais criativos, mais inconsequentes costumamos ser. Muitas vezes quebramos a cara, erramos, mas também experimentamos novos sentidos e descobertas, criando conexões valiosas para a vida toda. 

A palavra adolescente é hoje tão comum que nós, adultos, a utilizamos sem nem nos questionar. “Bruno é um adolescente complicado”, “tá  parecendo uma adolescente”, “adolescência é uma fase dura mesmo”. É também um conceito muito estudado pela psicologia e pela sociologia, que buscam compreendê-lo como uma etapa no desenvolvimento humano e com consequências para o comportamento social. Mas essa palavra só passou a ser usada depois do século XVIII para designar o que, hoje, entendemos como tal. Embora existisse já no latim antigo, o verbo adoleo, que dá origem a adolescens, significa primariamente queimar algo, oferecer em sacrifício, elevar. Ainda na raiz da palavra, há o verbo alo, que significa nutrir. Deste sentido é que surgem os sentidos de fazer crescer, engrossar, aumentar, que está presente na palavra adolescens, étimo que transmite a ideia de alguém que está crescendo. Por isso, ainda na Antiguidade a palavra indicava alguém que não era nem criança, nem adulto, era alguém em crescimento. É comum compreendermos a adolescência como uma fase intermediária, que está entre algo que ainda não é – o adulto – e que está deixando de ser – a criança. Embora a psicologia do desenvolvimento tenha estudado extensamente a adolescência e a delimitado em determinada faixa etária (que varia, é certo), talvez não devamos reduzir esse crescimento a uma ideia de maturidade, como se deixássemos para trás, enquanto crescemos, um ser imaturo. A analogia do crescimento e amadurecimento de uma fruta, por exemplo, é perigosa, pois uma maçã tem uma época ideal em que é perfeitamente madura, acabada em si mesma, pronta para ser consumida. E nós? Podemos dizer que atingimos um momento em que estamos “acabados”, per-feitos, isto é, feitos por completo? Podemos lembrar de John Dewey, para quem a imaturidade é algo fundamental, pois é ela que permite que aprendamos continuamente, que sempre haja algo para descobrir, ou um novo olhar para o que já é conhecido. Essa imaturidade quer dizer uma plasticidade para sempre aprender mais, é um elemento dinâmico que muitas vezes se paralisa em nossa formação, e assim deixamos de querer aprender. E, num contexto que se reinventa à luz da conectividade e da inteligência artificial, o termo lifelong learning, a aprendizagem ao longo da vida, será cada vez mais evidenciado. 

Este é um convite para reviver o espírito inconsequente de queimar algumas ideias pré-concebidas que nos imobilizam, nossas verdades de adulto, para nutrir um espírito criativo aberto a tudo que está por vir. Experimente resgatar lá no fundo da memória: a adolescência era ou não era uma fase que gostaríamos de reviver? E por que não?

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