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ESPECIAL BULLYING 01 | Atrás das grades da escola

Conheça o relato de educadores que decidiram combater o bullying, empoderando os alunos e tornando-os protagonistas dessa luta.

por Lara Silbiger

Todos os dias, ao entrar pelos portões das escolas do país, um em cada dez estudantes é vítima de bullying, segundo dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) 2015. São crianças e adolescentes que se veem obrigados a conviver com agressões físicas, psicológicas e verbais praticadas pelos próprios colegas, com repercussões danosas para o bem-estar e o desenvolvimento. Romper esse círculo vicioso com programas antibullying é o desafio lançado às instituições de ensino – o que, na prática, ainda parece longe de se concretizar. Uma luz no fim do túnel surge quando iniciativas inspiradoras, ainda que pontuais, começam a pipocar. Trata-se de projetos de educadores que, na contramão do status quo, vêm buscando novas formas de combater o problema.

A solução, porém, não é nada simples. Está em vigor, desde fevereiro de 2016, uma lei federal (Lei 13.185/2015) que responsabiliza as instituições de ensino pela promoção de medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying. “Isso não se resume a chamar os pais para conversar. Mas assumir que também é papel da escola ensinar a conviver. Se há conflitos que só ocorrem atrás de suas grades, é lá que eles precisam ser trabalhados. E de forma sistemática”, afirma Loriane Trom- bini, doutora em projetos antibullying e professora do Departamento de Sociais e Humanas – Setor Palotina da UFPR (Universidade Federal do Paraná). As instituições que fecharem os olhos para esse tipo de violência correm o risco de ser levadas aos tribunais.

A estratégia de conter o bullying com a força da lei não é, no entanto, nenhuma novidade. As primeiras iniciativas no âmbito legislativo datam de 2009.“Tamanho era o anseio geral pelo fim do fenômeno que se chegou ao ponto de ter que criar leis como resposta à população”, destaca Loriane. O boom das aprovações de leis estaduais se deu entre 2011 e 2012, diante da comoção nacional com o Caso Realengo – o crime, que ocorreu em uma escola do Rio de Janeiro (RJ) em abril de 2011, foi supostamente motivado pela vingança de um ex-aluno vítima de bullying.

Recentemente, outro caso chocou o país. Em outubro do ano passado, um adolescente de 14 anos que sofria bullying em um colégio particular de Goiânia (GO) matou a tiros dois colegas e feriu quatro. O trágico incidente é mais um indício de que as leis não resolvem o problema, ainda tão arraigado nas escolas. “Dizer que o enfrentamento já está no conteúdo programático e no dia a dia da instituição não é suficiente. Na prática, muitos professores continuam tratando o bullying como brincadeira entre os alunos ou ação isolada”, afirma a professora da UFPR.

Para dar o primeiro passo rumo ao enfrentamento, as escolas precisam de formação – tanto para aprender o que é o bullying e diferenciá-lo de outras formas de violência escolar quanto para conhecer as ações de combate que existem mundo à fora e as que já funcionam por aqui. É claro que isso não acontece do dia para a noite. Demanda tempo e espaço para estudar, assimilar e, então, organizar as próprias estratégias e ações antibullying.

O programa ideal é aquele que visa à melhoria da convivência, com a pre- venção atrelada ao projeto pedagógico da escola. É fundamental, por exemplo, fazer um diagnóstico da realidade escolar para identificar que tipos de bullying acontecem, as idades mais afetadas e os locais mais recorrentes; ou que, em situações de risco, haja medidas de integração e acolhimento da potencial vítima; e, se o bullying chegar a acontecer, que haja ações específicas para lidar com a vítima, o autor, as famílias de ambos e os demais alunos, que são espectadores e incentivadores da violência.

A realidade das escolas, porém, ainda desafia o enfrentamento. “Os professores se sentem sobrecarregados e acabam priorizando o conteúdo. Só atentam para o bullying quando o conflito já se instalou”, lamenta Loriane. Por outro lado, desatar suas amarras é uma questão ética. E, sem dúvida, um ato pedagógico. “Embora ainda sejam poucas as iniciativas para reverter esse cenário, todas são louváveis e precisam ser incentivadas”, enfatiza. Ela ainda destaca o papel exercido pelos professores sensíveis à causa. “São eles que chamam a atenção para a problemática e dão o pontapé para a escola se conscientizar.”

Dar o passo inicial implica ficar frente a frente com o problema e não abrir mão dele até que se implementem ações que façam a diferença. A seguir, conheça a história de três educadoras que encararam o desafio de reco- nhecer o bullying no espaço escolar, engajaram os colegas e transformaram os valores dos alunos e das famílias. São relatos de quem, acima de tudo, não subestima nem se conforma com o sofrimento alheio.

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