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ESPECIAL BULLYING 04 |Educação física para todos

Por Lara Silbiger

Motivação

  • Amor à primeira vista: Ao propor uma atividade física, valorize a vivência e o fazer. “O professor que apresenta novos conteúdos com cara de desafios acaba motivando a criança tanto a experimentar como a persistir”, afirma Elaine, da Unicamp. Já o professor que visa apenas ao desenvolvimento de habilidades e resultados pode acabar afastando o aluno que não tiver uma experiência bem-sucedida. A razão é simples: gostar ou não gostar de alguma coisa tem a ver com a forma como se dá a vivência. Aquelas que nos fazem sentir reconhecidos e contemplados acabam sendo as mais atraentes. Já as associadas ao fracasso geram a sensação de rejeição. “Vale atentar para esses mecanismos porque os alunos têm o primeiro contato com inúmeras práticas corporais na Educação Física”, alerta.
  • Para todos os gostos: “No meio de mais de uma centena de esportes, ainda se repete o quarteto fantástico – futebol, basquete, vôlei e handebol —, contrariando as propostas curriculares estaduais e federal, que preveem diferentes práticas para cada ano escolar”, comenta Martins, do Unasp. O risco desta restrição é favorecer apenas os que “jogam bem” e desmotivar os demais. Por isso, a dica é diversificar o conteúdo com possibilidades que vão além do esporte: dança, ginástica, luta e brincadeiras. “Se você tem uma ampla gama de atividades, é difícil que o aluno não goste de nenhuma”, afirma Elaine, da Unicamp. Outro cuidado é não estigmatizar as propostas. “Fuja do discurso de que as meninas são mais frágeis e, por isso, devem realizar determinada atividade. Ofereça futebol, arco e flecha, balé etc. para todos. Vá além do movimento e discuta os conceitos e preconceitos que estão por trás daquela prática”, sugere Martins.

Conduta do professor

  • A união faz a força: Some esforços no enfrentamento ao bullying. “O professor de Educação Física precisa ter voz e ouvidos para dialogar com os pares, a coordenação e a direção da escola sobre prevenção e gerenciamento da violência escolar para que ela sequer vire bullying”, afirma Martins, do Unasp. Dividir essa responsabilidade é um compromisso de todos.
  • De professor a assediador: A conduta do professor pode tanto inibir o bullying quanto incentivá-lo. Portanto, fique atento às suas atitudes para não assediar moralmente os alunos. Não use apelidos para se dirigir a eles, nem legitime a prática entre a turma. Seja tolerante com os menos habilidosos e reavalie sempre as próprias práticas. “A intolerância pode ser explícita – em falas como ‘tinha que ser menina’, quando elas perdem a bola no jogo – ou implícita – ao permitir que os times mais fortes tenham mais tempo de quadra”, alerta Elaine, da Unicamp.
  • Sem preconceitos: Identifique em si mesmo os preconceitos que ainda carrega. “Reconhecer-se preconceituoso é o primeiro passo para se sensibilizar e entender que a diferença não pode ser simplesmente moldada e rotulada”, afirma Aline Santos do Nascimento, professora de Educação Física e pesquisadora do Gepef/USP. O próximo passo é se preparar para lidar com a diferença nas aulas. “Do contrário, como vou trabalhar com todo o grupo se só valorizo aqueles que têm alta performance? Ou como lido com os afrodescendentes se sou racista?”, questiona.
  • Valorize a diferença na prática: “Nas aulas, crie espaços para que ela fale por si e seja visibilizada. É possível adaptar as regras de determinado esporte às diferentes habilidades encontradas na turma. Por exemplo: no vôlei, desde que a bola ultrapasse a rede sem o jogador pisar o campo adversário, tanto faz se o movimento será com as duas mãos, com a cabeça ou como o grupo combinar. O importante é que todos joguem, respeitando suas capacidades individuais”, afirma Aline, do Gepef/USP. Diante dessa proposta, é inevitável que os alunos confrontem o jogo deles com as partidas que veem na televisão. “A ideia é justamente incentivá-los a refletir sobre as várias possibilidades, ampliar o repertório cultural com textos, vídeos, conversas com atletas profissionais e amadores, visitas a espaços es- portivos etc. e permitir que eles deem um novo um significado às práticas esportivas”, explica Elenice Fernandes, professora de Educação Física.

Competição saudável

  • Mocinha ou vilã? “A competição faz parte dos conteúdos da Educação Física e precisa ser trabalhada, mas de forma reflexiva”, pondera Elaine, da Unicamp. Use os conceitos inerentes a ela, como vitória, derrota, justiça, meritocracia e sentimento de perda, e incentive reflexões sobre como eles aparecem no cotidiano. Converse com a tur- ma, por exemplo, sobre o papel das torcidas, a violência nos estádios e como a agressividade de um grupo deprecia o outro. Outra dica é valer-se dessas discussões para construir as regras das competições escolares. “Esse conjunto de normas deve sempre partir das necessidades do próprio grupo, ou seja, de um conflito vivenciado e de suas soluções”, explica.
  • Medalha de ouro: O modelo de premiação da Fifa, que valoriza o alto rendimento no esporte, não funciona para as escolas. Em vez disso, o professor precisa privilegiar o processo de formação do aluno. “O desafio é atrelar ao prêmio um comportamento que agregue valor ao aprendizado, de forma que a criança se sinta estimulada a dar o seu melhor”, recomenda Martins, do Unasp. Ele também sugere que se criem indicadores e metas de rendimento para reconhecer o esforço do estudante. O mesmo pode ser feito para equipes. “A ideia é reunir outros elementos de avaliação que vão além do número de gols, da distância percorrida ou do tempo alcançado, o que minimiza a exposição das diferenças e premia pela evolução”, explica.

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