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Novas experiências em uma nova escola

Do estabelecimento em que se davam instruções para um lugar sem muros onde todos podem aprender e ensinar a partir de suas experiências.

texto  Leonardo Rabelo

O movimento de pessoas diferentes indo e vindo, o som no corredor nos intervalos das aulas, a cor das paredes, o número na porta da sala, os sorrisos e os gritos na quadra de esportes, as conversas sobre a vida com amigos, as aulas no laboratório, o sabor da merenda, o sorriso do professor favorito, o primeiro trabalho em grupo, a primeira avaliação, a apresentação do grupo de teatro, o dia em que a banda da escola ganhou um prêmio, a palavra de incentivo quando algo deu errado, as festas, a inesquecível saída pedagógica, a apresentação de um projeto de pesquisa e o tão sonhado fechamento de um ciclo com uma formatura. Conseguiu voltar no tempo e abrir a caixinha de memórias significativas? Qual foi a principal experiência que marcou a sua trajetória na escola? 

Dificilmente vamos lembrar da página 38 do livro de Matemática e da lista de 10 exercícios valendo pontos para o bimestre. Definitivamente, o que nos move não são ideias abstratas, mas a experiência vivenciada, o conhecimento obtido por meio de tentativas repetidas, do acerto, do erro, do que um dia era incerto e, por um processo metodológico ativo, com etapas e estímulos diferentes, tornou-se conhecido, testado e, por fim, aplicável e memorável. As ideias até podem abrir caminhos, mas dar passos por esses caminhos é uma questão de experiência.

Quando somos submetidos a experiências voluntárias ou involuntárias, dentro ou fora da escola, do ponto de vista do nosso funcionamento biológico — entendendo que o nosso cérebro é maleável e adapta-se a mudanças de acordo com a prática que vivemos — proporcionamos ao outro e a nós mesmos uma situação nova de aprendizagem a partir das conexões pelos nossos canais sensoriais, em movimentos simultâneos, combinados com estímulos visuais, auditivos, gustativos, motores e emocionais que alteram nossa capacidade de dar atenção para nos movimentarmos e, assim, aprender algo que terá sentido e significado. 

Diante do entendimento sobre o poder da experiência e do contexto que vivemos atualmente, a cada dia fica mais evidente que a escola de hoje não deveria ser um lugar de simulações da realidade, de tópicos com foco apenas no conteúdo, mas, sim, um ambiente de sociabilização, de valores, de tolerância, de relacionamento social, de respeito, de expressão de cultura, de mais contato com a comunidade, de experiências para cumprir uma missão muito mais ampla do que apenas ensinar com aulas expositivas. Não que ela não deva oferecer conteúdos, mas ela precisa ter seu campo de atuação ampliado para construir experiências significativas no tempo presente. 

Como amante das boas perguntas, termino o texto com um convite à reflexão. Um convite para pensarmos na escola como uma instância social que respira experiências. E o que isso muda no lugar chamado escola, na herança do modelo que recebemos e replicamos com o passar dos anos? A própria palavra instância substitui a palavra estabelecimento e abre espaço para experiências que automaticamente nos farão repensar lugares, formatos e movimentos de como a prática pedagógica (a vida) acontece com maior ou menor intensidade fora do seu prédio físico. Que tipos de experiências e estímulos estamos proporcionando aos mais diferentes atores da escola? Que decisão transformadora é preciso tomar para proporcionar uma educação mais focada em experiências? 

Gostamos muito de funcionar de maneira única, nos polos do certo e errado, na prática literal da expressão “sempre foi assim”. A escola que baseia sua prática em projetos e experiências de aprendizagem, não precisa ser isso ou aquilo, ela pode ser isso, aquilo, mais isso, mais aquilo e uma enorme variedade de práticas e situações de aprendizagem que façam mais sentido a todos os atores envolvidos. 

Que a experiência de aprender continuamente seja fértil! 


Leonardo Rabelo é professor de História com especialização em Psicopedagogia e Educação para Infância. Gestor. No Projeto UNO educação, atuou como Coach Pedagógico, Supervisor Pedagógico e, atualmente, está como Gerente de Serviços Educacionais. Seu propósito e trajetória na educação estão marcados pela sua inteligência social, generosidade, perspectiva e liderança. 
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