Quanto vale a matemática pra você?
É preciso vivenciar novos valores para desbloquear antigos preconceitos sobre a matemática.

Texto: Ivan Aguirra
Chico Soares, professor de Matemática e ex-presidente do Inep, sempre diz que só há aprendizado se houver mudança na memória de longo prazo. E isso ocorre quando há condições psicocognitivas e quando há sentido. Basta se lembrar dos tempos de escola, quando contávamos frutas na barraca da feira, depois passamos a valorar letras e simular possibilidades. Gradualmente, do concreto ao abstrato, íamos criando condições para, literalmente, desbloquear nosso cérebro para aquele contexto. Digo e reforço desbloquear porque há, na nossa cultura, uma crença generalizada de que é normal não gostar de Matemática. Tanto que se pedirmos para uma ferramenta de inteligência artificial desenhar um bicho de sete cabeças, a probabilidade de este ser representado com símbolos e fórmulas matemáticas é enorme. É socialmente aceito tirar notas baixas na disciplina. É, inclusive, um fator de identificação entre muitas pessoas. Isso inevitavelmente gera nas crianças e nos jovens um bloqueio de que os conteúdos da disciplina não entrarão na cabeça.
O problema da aprendizagem matemática no Brasil passa, acima de tudo, pela bola de neve psicológica que assola toda a Educação Básica, devastando as artes, a educação digital e tecnológica, as ciências naturais e o que mais estiver pela frente, intensificada pela interpretação de textos e pela falta de abstração. Para haver aprendizagem, a mentalidade matemática precisa ser desbloqueada logo nos anos iniciais da escola. Nesse sentido, talvez a cereja do bolo seja a conscientização das famílias sobre o seu papel como exemplo e motivação, sobre as possibilidades que a disciplina pode desempenhar ao longo da vida acadêmica do aluno e do seu convívio em sociedade, assim como a influência indireta em outros campos.
Inúmeras iniciativas têm sido implementadas para popularizar a disciplina. Em 2024, houve um recorde de inscritos na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. No Rio de Janeiro, em setembro, aconteceu a terceira edição do Festival Nacional de Matemática, organizado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que contou com a participação de 20 mil pessoas, demonstrando que os esforços estão surtindo efeito. Mas tantas outras ainda precisam ser instituídas, como a revisão do ensino da Matemática nos cursos de Pedagogia e as formações em serviço para pedagogos e em novas metodologias para professores da disciplina.
É essencial que todo o ambiente escolar viva e se una em torno dos conceitos elementares da Matemática. Só assim sairemos das últimas posições em avaliações internacionais, como Pisa, e poderemos concretizar, inclusive, melhores índices econômicos para o país.