5 perguntas essenciais sobre a educação inclusiva
Quando o assunto é educação inclusiva, existem premissas que todo professor deve se preparar para responder. Conheça cinco delas.
texto Ana Paula Patente
Apesar de a educação inclusiva ser um assunto frequente nas conversas sobre ensino e aprendizagem, e de existir uma crescente sensibilização e interesse sobre o tema, muitos educadores e muitas famílias ainda enfrentam dificuldade e incertezas ao lidar com o ensino dos estudantes público-alvo da educação especial.
Desde o diagnóstico até o fazer em sala de aula, a inclusão exige do educador uma postura diferenciada, que vá além da simples adaptação de atividades e recursos. É preciso compreender as necessidades individuais de cada estudante, as preocupações e os anseios da família, bem como criar um ambiente que favoreça o desenvolvimento e a participação de todos.
Nesse sentido, é fundamental trazer essas dúvidas, discuti-las e buscar soluções coletivas que contribuam para uma prática pedagógica mais inclusiva. Para ajudar nessa missão, trouxemos cinco perguntas que todo o professor precisa responder para conquistar bons resultados na inclusão.
1. Como propor atividades que alcancem os objetivos de aprendizagem dos estudantes do AEE e de toda a turma?
Uma das principais preocupações dos professores que trabalham com salas de aula inclusivas é saber como propor atividades que, ao mesmo tempo, sejam significativas, acessíveis e alcancem a todos.
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento podem contribuir significativamente para a criação de um ambiente mais inclusivo uma vez que estão relacionados às aprendizagens essenciais como comportamentos, habilidades, conhecimentos e vivências.
Para atingir esse objetivo, é fundamental que o professor elabore um planejamento que reconheça cada estudante como único, que esteja preparado para atender demandas específicas, bem como esteja disposto a adaptar atividades de acordo as necessidades educativas e diferenças individuais que surgirem durante o processo educativo.
Além disso, é preciso considerar os diferentes níveis de aprendizagem, ritmos de desenvolvimento, potencialidades, habilidades e limitações, cuidando para selecionar os recursos mais adequados a cada situação de aprendizado.
É importante salientar que os professores não devem se limitar a uma única metodologia ou recurso, mas devem oferecer atividades diversificadas e atrativas:
- Utilizar atividades lúdicas e criativas para engajar os estudantes.
- Utilizar jogos ou atividades com múltiplas modalidades sensoriais.
- Criar rotinas e procedimentos claros.
- Incentivar a cooperação e o trabalho em equipe.
- Utilizar recursos audiovisuais e multimídia para enriquecer as atividades.
- Buscar constantemente se atualizar e se capacitar.
Por fim, vale salientar que tão importante quanto implementar essas estratégias na prática é a flexibilidade do professor ao elaborar seu planejamento, estando sempre atento à necessidade de ajustes, mudanças e até mesmo de começar tudo de novo, se necessário.
2. Como elaborar e/ou adaptar recursos pedagógicos inclusivos?
Quando falamos em elaborar atividades adaptadas, preparar recursos pedagógicos inclusivos ou adaptar espaços físicos estamos nos referindo a uma prática que visa garantir que todos os estudantes participem de todas as atividades escolares e tenham acesso ao mesmo conteúdo desenvolvido em sala de aula em igualdade de condições. Isso significa que, ao adaptar uma atividade, o professor está tornando acessível a participação do estudante para que assim ele possa participar e aprender da mesma forma que os demais colegas de turma.
Uma das abordagens educacionais que vêm sendo utilizadas por escolas que desejam tornar seus ambientes mais inclusivos é o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA). Essa abordagem tem como objetivo criar ambientes escolares acessíveis e inclusivos para todos e contribui em todas as ações importantes para a elaboração de recursos pedagógicos inclusivos, promovendo a equidade, garantindo igualdade de oportunidades, atendendo às necessidades educativas, além de fornecer flexibilidade para adaptar as atividades de acordo com as necessidades de cada estudante.
No DUA, o professor apresenta diversas oportunidades para que os estudantes possam compreender o conteúdo, expressar seu conhecimento e ser ativos em seu processo de aprendizagem com base em estratégias como:
- Oferecer materiais em diferentes formatos: O mesmo conteúdo pode ser produzido em texto, áudio, vídeo e imagens. Por exemplo, um estudante que tem dificuldades para ler pode receber um material em áudio ou vídeo, enquanto outro pode preferir ler um texto escrito.
- Simplificar as informações: Muitas vezes as informações podem ser complexas demais para alguns estudantes. Nesse caso, o professor pode simplificar o conteúdo e apresentá-lo de maneira mais objetiva. Por exemplo, utilizando ilustrações ou gráficos para facilitar a compreensão.
- Acomodar diferentes estilos de aprendizagem: Os estudantes aprendem de diferentes formas: alguns são mais visuais, outros auditivos, e outros ainda aprendem melhor na prática. Considerar esses diferentes estilos pode ajudar todos a aprender melhor.
- Oferecer alternativas de avaliação: Em vez de avaliar apenas por meio de provas escritas, o professor pode oferecer alternativas de avaliação, como apresentações orais ou projetos em grupo.
É importante destacar que atividades adaptadas não são atividades inventadas, mas sim elaboradas com base no plano de aulas e/ou no currículo da turma. Dessa forma, o DUA funcionará efetivamente e garantirá que o estudante tenha igualdade de acesso a todas as oportunidades de ensino.
3. Qual é o melhor momento para chamar a família para uma investigação diagnóstica?
É fundamental que a escola saiba identificar o momento ideal para chamar a família do estudante para sugerir uma investigação diagnóstica. Esse momento pode variar de acordo com as situações vivenciadas por cada estudante no ambiente escolar. É importante que a escola, antes de fazer um comunicado formal à família, identifique e observe as situações atípicas e o contexto em que elas ocorrem, seja em relação ao comportamento, seja em relação aos riscos para o desenvolvimento de transtornos de aprendizagem.
Todas essas informações devem ser cuidadosamente registradas para que seja possível distinguir se aquilo que está interferindo no desempenho acadêmico do estudante é causado por fatores ambientais, contextuais ou se é causado por aspectos biológicos, por exemplo.
Assim, toda a equipe escolar deve reconhecer as diferentes situações e contextos, identificar se os comportamentos inadequados ocorrem de forma constante ou em momentos específicos, se há algo que desencadeia esses comportamentos, se há dificuldade de aprendizagem e se são persistentes ou ocorrem em determinadas situações.
Esses registros não apenas contribuem para a busca de soluções no desenvolvimento educacional, como podem fundamentar a comunicação à família sobre os motivos da convocação. Além disso, podem subsidiar o professor na elaboração do relatório pedagógico que será enviado aos profissionais da saúde.
Outra forma de se preparar para falar com os familiares é estabelecer uma relação de confiança desde os primeiros dias do aluno na escola. Para isso, é importante adotar uma postura acolhedora, empática e que demonstre interesse genuíno no sucesso escolar da criança. A clareza, a transparência e a honestidade são fundamentais para uma relação de confiança.
Assim, a escola não apenas consegue identificar os problemas de aprendizagem, mas também envolve a família no processo educacional, promovendo uma relação mais próxima e colaborativa. Essa parceria é essencial para garantir que o estudante receba o apoio e a assistência necessários para superar as dificuldades e alcançar sucesso acadêmico.
4. Como lidar com a frustração da família e do estudante no AEE?
Gerenciar a frustração que familiares e estudantes vivenciam no Atendimento Educacional Especializado (AEE) pode parecer algo desafiador, no entanto a escola deve encarar essa situação sob uma nova perspectiva.
Embora o reflexo dessa frustração seja uma emoção negativa, ela pode estar vinculada a outras circunstâncias que pais e alunos experimentam, tais como a falta de confiança na escola e na sua função, baixas expectativas em relação ao aprendizado do estudante, sensação de impotência diante dos diversos obstáculos e aos “nãos” ouvidos constantemente.
Por isso, é crucial que a escola reconheça esses sentimentos e busque estabelecer uma comunicação aberta, acolhedora e positiva a fim de lidar com as situações desafiadoras que possam surgir. Sugerimos, a seguir, três estratégias:
- Escuta ativa: Essa é uma habilidade importante na comunicação interpessoal que consiste em ouvir atentamente não só as palavras ditas, mas também perceber as emoções e intenções por trás da mensagem. A escuta ativa permite ao professor mostrar que está aberto para ouvir sem julgamentos, que se importa com as preocupações da família e que não está alheio às suas emoções.
- Pedagogia da presença: É uma abordagem educacional baseada na conexão humana, no respeito mútuo e no diálogo. Ela prioriza a qualidade das relações entre professor e estudante e visa proporcionar um ambiente de aprendizagem em que os estudantes se sintam apoiados, motivados e acolhidos.
- Competências socioemocionais: Uma forma prática de oferecer suporte emocional às famílias e aos estudantes é se dedicar ao desenvolvimento de atividades que envolvam as competências socioemocionais, seja com família, seja com estudantes.
Ao utilizar essas estratégias, professores e outros integrantes da escola podem ajudar famílias e estudantes a minimizar os impactos que a frustração causa, ensinando-os a lidar com ela de forma positiva e saudável.
5. Quem é responsável pela inclusão escolar?
A inclusão é responsabilidade de toda a sociedade, desde governos, instituições públicas e privadas, organizações da sociedade civil, empresas até cada um de nós. Nossas ações desempenham um papel indispensável na construção de uma sociedade mais inclusiva e acessível para todos.
No entanto, nos ambientes educativos a responsabilidade é compartilhada com toda a comunidade escolar e não pode ser atribuída a um único profissional. Dessa forma, todos os profissionais da escola, como gestores, professores, orientadores educacionais, pedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos, têm responsabilidades na inclusão escolar.
A gestão escolar, por exemplo, tem a responsabilidade de implementar políticas de inclusão, bem como garantir que o ambiente físico e os recursos pedagógicos estejam adaptados às necessidades dos alunos da educação especial. Além disso, é seu papel promover formação continuada e implementar práticas pedagógicas inclusivas.
Já os professores são responsáveis por garantir a inclusão em sala de aula, adaptando a metodologia de ensino e as atividades pedagógicas para atender às necessidades dos estudantes. Têm também a responsabilidade de promover um ambiente acolhedor e inclusivo.
Coordenadores educacionais têm um papel determinante na orientação e no acompanhamento dos estudantes, no desenvolvimento de estratégias pedagógicas inclusivas, na identificação de dificuldades de aprendizagem e comportamento, na orientação dos professores sobre estratégias pedagógicas inclusivas e na participação dos estudantes em atividades escolares em sua totalidade.
Além disso, a participação da família é fundamental para o sucesso da inclusão escolar, já que é sua responsabilidade acompanhar o processo educativo de seus filhos, dialogar com a escola e contribuir para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.
A inclusão escolar só é possível quando todos assumem sua responsabilidade e trabalham juntos para garantir o acesso, a permanência, o percurso escolar de qualidade para o estudante alcançar os níveis mais elevados de ensino.
Ana Paula Patente Atua na educação inclusiva há mais de 15 anos na capacitação de profissionais do AEE e na implantação de Salas de Recursos da rede pública de Minas Gerais. É autora o livro Guia definitivo para elaborar o PDI e fundadora da Comunidade Educadores Inclusivos, que reúne on-line educadores de todo o Brasil.