ESPECIAL BULLYING 03 | Em busca do equilíbrio
Por Lara Silbiger
Relato de Amanda Castanheira
Coordenadora pedagógica Escola São José de Vila Matilde São Paulo (SP)
“Sou coordenadora pedagógica e educacional do Fundamental 2 na Escola São José de Vila Matilde, na capital paulista, onde ensinar o aluno a desenvolver sua inteligência socioemocional tem sido uma boa estratégia antibullying. A ideia é justamente evitar que ele se deflagre, corrigindo em tempo real uma situação de risco, orientando as partes envolvidas e resgatando esses alunos.
Partimos do pressuposto de que sentimentos não se exterminam, mas são passíveis de ser dominados. Na prática, isso significa que um estudante pode até chegar a agredir o outro, mas ele tem plenas condições de re- troceder, se arrepender e se corrigir a tempo de restringir aquela violência a um ato isolado. Isso, no entanto, demanda aprendizado.
Desde 2014, incluímos na grade curricular da Educação Infantil ao Ensino Médio uma hora-aula semanal de educação socioemocional, baseada na Teoria da Inteli- gência Multifocal, do escritor e psiquiatra Augusto Cury. O objetivo é desenvolver esse tipo de aprendizado no ambiente escolar, trabalhando temas como altruísmo, resiliência, empatia, diálogo, conexão entre os indivíduos, ação e reação, autocontrole, entre outros. Uma das vantagens do olhar multifocal é adquirir a capacidade de olhar ao redor e pensar antes de agir ou reagir diante de algo que nos incomoda.
Em paralelo, trabalhamos com as famílias na Escola de Pais. Afinal, de nada adianta incentivar mudanças apenas nas crianças. Ao todo, são quatro en- contros por ano, nos quais temos a oportunidade de discutir temas da atualidade que tangenciam a educação socioemocional. Recen-
temente, discutimos o bullying digital, como os adultos podem preservar a intimidade dos filhos e o que pode estar por trás da superexposição – do excesso de autoafirmação à baixa autoestima.
Em suma, estamos falando de desenvolver nos estudantes e nas famílias uma autoestima equilibrada, o que minimiza as chances de que o bullying aconteça. Claro que isso faz parte de um processo, mas estamos caminhan- do para isso.”
Ações antibullying
Conheça os tipos de ações que um programa antibullying pode ter:
- Informação, conscientização e sensibilização: Seminários, palestras, mesas redondas e atividades culturais que conscientizem sobre o que é bullying, suas causas e consequências.
- Identificação escolar da realidade: Pesquisas sobre a ocorrência do bullying para identificar os fatores que o fomentam. Isso permite implantar ações específicas de prevenção e contenção.
- Relações interpessoais: Fomentam relações de cooperação e respeito mútuo e o sentimento de empatia e de sensibilidade moral. Sistemas de apoio entre pares, por exemplo.
- Desenvolvimento emocional e autoestima dos alunos: Valorizam as individualidades, canalizam as diferenças para a melhoria da autoestima e favorecem o diálogo para resolver conflitos, como aulas de educação socioemocional.
- Ensino de valores sociomorais: Promovem a cidadania, a empatia, o respeito mútuo, a tolerância, a amizade, a solidariedade, a cooperação e o companheirismo, tendo como base a educação moral ou a educação em valores.
- Regras: Envolvem diferentes segmentos da comunidade escolar na discussão, elaboração e revisão das normas. Devem ter caráter formativo, não meramente informativo.
- Mudança de estrutura funcional da escola: Criam grupos com representantes de cada segmento da comunidade escolar — conselho de segurança ou equipe multidisciplinar — para organizar atividades de prevenção ao bullying e contenção.
- Capacitação profissional: Formam docentes, equipes pedagógicas e colaboradores da escola para implementar ações, programas e políticas antibullying. Vale fazer parcerias com Secretarias de educação, universidades e outras instituições de ensino.