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O poder da inteligência coletiva

texto  Ivan Aguirra

Com toda certeza, um dos “aprendizados” mais dispensáveis que despertei nos tempos da escola foi a crença de que “não basta ser bom, é preciso ser melhor”. A cultura da competição, do ranking, do primeiro lugar, acaba por invalidar tudo que é diverso e fora do padrão do que é posto como formal, além de colocar todos que não estiverem no topo como inadequados, insuficientes de alguma forma. Passadas décadas dos meus tempos de carteira escolar, é nítido que essa crença ainda povoa o imaginário da imensa maioria da população, alimentada pelos processos de seleção às universidades. Afinal, como construir uma nova forma de ensinar com sentido se o aluno precisa necessariamente cumprir os requisitos cobrados nos exames de seleção? Ouso dizer que na proposta mista seguida por muitos colégios, aquela que dá luz à inovação sem tirar os olhos dos protocolos mínimos do vestibular, tanto o gato quanto o peixe acabam sendo perdidos de vista uma vez que se promove a exclusão, por segregar em vez de acolher as diferentes formas de aprender e despertar a criatividade e a curiosidade pelo novo. Afinal de contas, sejamos sinceros, há espaço para os estudantes com necessidades especiais na escola atualmente? Não me refiro a projetos apertados, mas a políticas públicas de inserção nas universidades, no mundo do trabalho, propostas de valorização de suas identidades e empoderamento na comunidade. De forma geral, não há.

Hoje, em resposta ao que supostamente aprendi, sou muito mais afeito a um aprendizado proposto por Pierre Lévy na obra Inteligência coletiva. Segundo o autor, o conceito que dá nome ao livro é “uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. Com ela, é possível reconhecer as diferentes habilidades de cada indivíduo com o objetivo de articulá-las para estarem a serviço da coletividade. Isso foi facilitado com a popularização das tecnologias digitais e da cultura da colaboração, tanto no meio acadêmico quanto no empresarial.

O maior valor da inteligência coletiva é seu potencial de oportunidade e compartilhamento entre todos, sem distinção etária, acadêmica, de classe social, gênero ou etnia. São saberes individuais que, somados, compõem um mosaico de inteligências múltiplas e diversas, potencializadas pelas vivências, pela criatividade e pela percepção de mundo de cada indivíduo. Darwin talvez dissesse que a inteligência coletiva poderia ser um processo evolutivo da experiência humana, considerando aprendizados colaborativos e de empatia, que envolvem tanto a técnica quanto o conceitual e o emocional. Afinal, todo o conhecimento está na humanidade e não há ninguém que seja nulo nesse contexto, todos podem colaborar de alguma forma que faça sentido. Por essa razão, o autor afirma que a inteligência coletiva deve ser valorizada em todas as circunstâncias, e aqui vale ressaltar que não se trata de uma atribuição exclusivamente da escola e na escola, mas de todos e nos mais diferentes lugares e contextos. O que a escola pode fazer é ajudar a mobilizar a comunidade sobre seu papel, abrir seus espaços para esse tipo de discussão e construção coletiva, a começar pela conscientização do poder excludente dos vestibulares, que sequer avaliam a jornada formativa do estudante, e sim sua capacidade emocional no dia da aplicação do exame.

Parafraseando Paulo Freire, “ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”. Que tal dividir essa experiência com mais pessoas da escola? Fica o convite.

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